
Distribuição lenta de cargos põe Congresso em pé-de-guerra
Foto: Givaldo Barbosa / O Globo
Enquanto enfrenta problemas no Congresso, que impôs ao governo a primeira derrota na semana passada, o Palácio do Planalto lida com insatisfações de parlamentares pelas promessas não cumpridas de cargos no segundo e terceiro escalões. Além da demora no trâmite das nomeações, congressistas citam disputas locais como fatores que têm motivado o atraso.
Há relatos de queixas no Republicanos, que abriga parlamentares de quem o governo vem tentando se aproximar, e no União Brasil, que indicou três ministros. As duas siglas têm em comum impasses regionais com o PT.
Como O GLOBO mostrou ontem, o Planalto reorientou sua estratégia após a derrubada de trechos do decreto do marco do saneamento e traçou um plano para facilitar a aprovação de projetos: a liberação de emendas, reuniões com partidos da base comandadas pelo presidente Lula e a cobrança para que ministros se envolvam na articulação política.
Não há solução ainda à vista, no entanto, para embates nos estados. O senador Humberto Costa (PT-PE), por exemplo, tenta barrar a escolha de um apadrinhado do deputado Silvio Costa Filho (Republicanos-PE) para a superintendência da Companhia de Desenvolvimentos dos Vales do São Francisco e do Parnaíba (Codevasf) em Pernambuco. Costa também quer indicar o comando da Superintendência do Desenvolvimento do Nordeste (Sudene), cargo disputado pelo União Brasil.
Na Paraíba, a ideia é que a indicação da Codevasf seja feita pelo líder do Republicanos na Câmara, Hugo Motta (PB). O cargo foi criado por uma decisão do Congresso, mas o governo ainda não determinou a abertura da nova estrutura, que ainda funciona apenas com um escritório de apoio.
As diretorias do Banco do Nordeste também não foram definidas pelo presidente, Paulo Câmara, que assumiu o cargo em março. A única indicação acordada é uma que será feita pelo líder do governo na Câmara, José Guimarães (PT-CE), mas outros partidos cobiçam as vagas.
Na Bahia, o PT tenta derrubar um indicado do deputado Arthur Maia (União-BA) do comando da Codevasf. O deputado Jorge Solla (PT-BA) reclamou que deixar os cargos na mão do União Brasil não se reflete no apoio do partido.
— Ainda entregaram os Correios na Bahia a uma bolsonarista indicada por um deputado federal que fez campanha para Bolsonaro.
Em outro traço da relação entre governo e o União Brasil, o partido fez um aceno e deverá indicar para a CPI dos Ataques Golpistas o senador Davi Alcolumbre (AP) e não Sergio Moro (PR). O GLOBO apurou que o gesto ocorre em meio a uma negociação para que o líder no Senado, Efraim Filho (PB), indique cargos nos Correios, Codevasf e Telebras.