Dr. Prevenildo puxa tapete de Bolsonaro
Foto: Arquivo Nacional e Cristiano Mariz
Jair Bolsonaro sempre defendeu a ditadura, mas tentou demolir um de seus raros legados positivos: o Programa Nacional de Imunizações. O plano foi instituído em 1975. No ano anterior, o regime havia censurado a imprensa para esconder uma epidemia de meningite.
A doença ignorou a mordaça e matou milhares de brasileiros. A contragosto, os generais foram convencidos de que era preciso vacinar em massa. Para encorajar a população, recorreram a um personagem de quadrinhos. Era o Dr. Prevenildo, espécie de avô do Zé Gotinha que aparecia em cartazes e comerciais de TV.
A lei que criou o PNI tornou obrigatória a imunização básica no primeiro ano de vida do bebê. Quem não vacinasse os filhos perdia o direito ao salário-família. O programa também impôs a notificação compulsória de doenças que exigem isolamento ou quarentena. Tempos depois, a regra seria aplicada no combate à Covid-19.
Ao sabotar as ações contra a pandemia, Bolsonaro fez o país retroceder quatro décadas e meia na saúde. O capitão negou a ciência, retardou a compra de vacinas e ironizou a dor de quem perdia parentes e amigos. A quem ousou cobrá-lo, respondeu com expressões como “E daí?” e “Não sou coveiro”. “Chega de frescura, de mimimi. Vão ficar chorando até quando?”, debochou.
Os crimes do ex-presidente foram documentados pela imprensa e por uma CPI. Só a Procuradoria-Geral da República não viu provas para denunciá-lo ao Supremo. A blindagem evitou que ele fosse processado por centenas de milhares de mortes evitáveis. Mas não foi suficiente para protegê-lo num caso mais trivial: a fraude em sua carteirinha de vacinação.
A Polícia Federal descobriu que uma quadrilha adulterou registros do SUS para enganar autoridades sanitárias nos Estados Unidos. De acordo com as investigações, o esquema foi comandado pelo faz-tudo de Bolsonaro e usou computadores do Planalto. Ainda assim, a PGR sustentou que a ação criminosa teria ocorrido “à revelia, sem o conhecimento e sem a anuência” do capitão. O ministro Alexandre de Moraes ignorou a conversa e mandou a PF fazer buscas na casa dele.
A operação desta quarta deixou o ex-presidente mais perto da cadeia. Depois de tudo o que fez, ele pode ir em cana por uma fraude rasteira, típica de políticos que enriquecem com notas frias e rachadinhas. Seria a vingança do Dr. Prevenildo contra o inimigo da vacina.