Governador de SC só negocia com bolsonarismo

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Foto: Cristiano Mariz

Cinco meses após tomar posse, o governador de Santa Catarina, Jorginho Mello (PL), permanece à sombra do bolsonarismo que o fez ganhar destaque no Senado, quando parlamentar, durante a CPI da Covid. Seu mandato prioriza pautas ideológicas, e deputados reclamam da falta de diálogo.

Após o 8 de janeiro, Mello enviou defensores públicos a Brasília para darem assistência aos catarinenses envolvidos nos atos. A medida rendeu investigação do Ministério Público Federal por suposta improbidade administrativa. O alinhamento ao bolsonarismo conta com nomeações: entre as 24 pastas com status de secretaria, dez titulares já declararam apoio a Bolsonaro. Quatro são ex-parlamentares derrotados nas urnas no ano passado e alocados no governo, como o ex-deputado federal Coronel Armando e Valdir Colatto, das secretarias de Defesa Civil e Aquicultura e Pesca.

Fora do primeiro escalão, a filha da ex-primeira-dama Michelle Bolsonaro, Letícia Firmo, é assistente de gabinete da Secretaria de Articulação Nacional. Jair Renan, filho do ex-presidente, ganhou um cargo no gabinete do senador Jorge Seif, aliado de primeira hora de Mello.

— Desde o papel de Jorginho no Senado, ele se forçou na onda do bolsonarismo local. Os secretários estaduais trabalham com o governo federal, e ele segue conseguindo manter a imagem de bolsonarista irredutível que garantirá seu espaço em 2026 — diz o professor de Sociologia da Universidade Federal do Paraná Ricardo Costa de Oliveira.

Para a oposição, Mello dá pouco espaço ao diálogo: de todos os encontros que teve com deputados estaduais ou federais até a última quinta-feira, 75% foram com integrantes do PL. Os demais 25% aconteceram com políticos da direita ou do Centrão, que também subiram no palanque do ex-presidente Jair Bolsonaro no ano passado. Os dados são de um levantamento do GLOBO, feito com base na agenda oficial do governador.

Até o momento, Mello enviou dois projetos para a Assembleia Legislativa: a reforma administrativa e a Universidade Gratuita. Em fevereiro, sancionou a lei que instituiu a escola sem partido, que tem como objetivo legislar sobre “o direito de aprender conteúdo politicamente neutro e livre de ideologias” nas instituições de ensino do estado.

De acordo com o líder do PT na Assembleia, deputado Fabiano da Luz, o governo e os seus deputados “perdem tempo com propostas pequenas”. Na última semana, a Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) da Casa derrubou o veto do governador a um projeto da oposição que coloca fim à necessidade de que estudantes veganos ou vegetarianos apresentem atestado médico nas escolas para uma merenda que atenda suas restrições:

— O governo ainda não começou, ainda está de porta fechada. Ele não abriu um diálogo com os partidos e não está preocupado com isso. Na verdade, foi Bolsonaro que se elegeu governador na figura de Jorginho Mello.

Em relação ao Palácio do Planalto, o governador falta com acenos e esconde a figura de Lula de suas agendas. Desde o início do mandato, ele esteve com Lula em três ocasiões. A mais recente foi em abril, após o massacre na creche em Blumenau, quando os dois se encontraram em reunião para discutir a violência nas escolas. As anteriores ocorreram em janeiro em eventos com governadores. Na primeira, no dia 9, Mello disse que não iria, mas compareceu.

O governador também esteve com ministros e secretários da Presidência. Em audiência no Ministério da Fazenda, pediu compensação de R$ 384 milhões investidos na recuperação de rodovias federais que, segundo a oposição, estão abandonadas desde o fim da gestão de seu antecessor, Carlos Moisés (Republicanos).

Houve casos públicos de claro desalinhamento. Quando, por exemplo, o ministro da Justiça, Flávio Dino, esteve no estado para falar sobre o massacre de Blumenau e o governador justificou sua ausência com uma cirurgia num olho. No mesmo mês, Dino esteve com os governadores de Paraná, Ratinho Júnior (PSD), e Rio Grande do Sul, Eduardo Leite (PSDB).

Procurado, Jorginho Mello não retornou.

O Globo