Governo oferecerá cargos no 2o escalão para fortalecer base
Foto: Ricardo Stuckert/PR
Pressionada pelas recentes derrotas no Congresso Nacional, a articulação política do governo está tentando destravar nomeações no segundo escalão que estariam sendo postergadas pelos próprios ministérios, numa disputa interna entre os diferentes partidos que compõem a base lulista. O impasse acontece porque os titulares das pastas estariam dificultando a designação de nomes sugeridos por outras legendas.
Este é um dos principais recados que a cúpula do Palácio do Planalto deve levar a partir de amanhã para as bancadas, numa série de reuniões de “realinhamento” marcadas para acontecer no Palácio do Planalto que buscam evitar novos fracassos no Legislativo.
O encontro desta quarta-feira (10), por exemplo, será com as bancadas do PSB e PSD, duas siglas que apoiam o governo Lula. Mas outro partido que também deve ser chamado para conversas é MDB, um dos focos de “problema” da gestão lulista. A legenda era tida como um dos aliados mais bem resolvidos da base, mas surpreendeu ao votar, nos últimos dias, contra o novo decreto do saneamento editado pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva.
Na avaliação de interlocutores do Palácio, os “buracos” na base aliada têm relação com a letargia do governo em nomear os indicados políticos sugeridos pelos parlamentares para cargos em agências reguladores e órgãos ligados aos ministérios.
A dificuldade para a acomodação desses indicados têm relação, entretanto, com a resistência das próprias Pastas em aceitar nomes sugeridos por partidos que não o do próprio ministro. Na prática, de acordo com fontes do governo, partidos como MDB, União Brasil e PSD resistem a nomear pessoas de outras legendas para cadeiras dentro das estruturas comandadas por cada uma delas.
O impasse tem relação com a forma como o governo fez a distribuição dos cargos na Esplanada. Segundo um integrante do Planalto, as diretorias de alguns órgãos foram loteadas entre dois ou mais partidos, como forma de dificultar qualquer esquema de corrupção “sistêmico”, como o que aconteceu na Petrobras nas últimas gestões petistas. Desta forma, as siglas podem ter mais dificuldade de orquestrar práticas ilícitas já que “um indicado político vigiaria o outro”, explicou um governista.
A “engenharia”, por outro lado, também acabou por dificultar a integração de todos os apadrinhados políticos. Um dos exemplos citados frequentemente é o da Companhia de Desenvolvimento dos Vales do São Francisco e do Parnaíba (Codevasf), que está servindo para acomodar diferentes legendas, mas cujo controle está ligado ao Ministério da Integração e do Desenvolvimento Regional, do ministro Waldez Góes, que foi indicado ao cargo pelo União Brasil.
Neste imbróglio, o Valor apurou que mais de 150 nomes estariam sendo esperando ações de seus respectivos ministérios para serem encaminhados à Casa Civil, instância final que precisa referendar cada uma das indicações políticas da publicação no Diário Oficial da União (DOU).
O governo, por sua vez, também deve um mea culpa no encontro com as bancadas e seus ministros. No encontro, os ministros da gestão petista irão admitir que algumas dessas nomeações estão pendentes devido à dificuldade do Executivo de colocar a máquina em pleno funcionamento.
Apesar disso, há a possibilidade de que nada acalme os ânimos. Um dos motivos é que os líderes aliados esperavam se reunir hoje com o próprio Lula, o que não estava programado para acontecer até o fechamento desta reportagem. A leitura de aliados é que novas conversas com os ministros das Relações Institucionais, Alexandre Padilha, e da Casa Civil, Rui Costa, não serão suficientes. A avaliação é que Lula precisa entrar em campo para escutar as reclamações e destravar a distribuição de verbas e cargos.