Governo quer CPI do golpe só após aprovar regra fiscal

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Foto: Marcelo Camargo / Agência Brasil

A base do governo no Congresso não vê urgência para instalar a Comissão Parlamentar Mista de Inquérito (CPMI) dos ataques golpistas do 8 de janeiro. Líderes que apoiam o presidente Luiz Inácio Lula da Silva avaliam que é preciso focar na aprovação do novo marco fiscal. Passadas duas semanas do dia em que o presidente do Senado, senador Rodrigo Pacheco (PSD-MG), autorizou a abertura da CPMI, nenhum partido indicou formalmente os integrantes do grupo.

Apesar disso, se os deputados conseguirem aprovar a nova regra fiscal na semana que vem, a avaliação do governo é que a CPI mista tenha início logo em seguida. O relator do projeto, deputado Cláudio Cajado (PP-BA), já disse que a urgência, que coloca o projeto direto no plenário, será votada no próximo dia 16.

Líder do PT na Câmara, Zeca Dirceu disse que não tem previsão para indicar os membros. De acordo com ele, “com certeza” a instalação não acontecerá antes de a Câmara aprovar o projeto que substitui o teto de gastos.

— Sem pressa. Vamos demorar — disse ao GLOBO.

Da bancada do partido na Casa, Lindbergh Farias (RJ), Rogério Correia (MG) e Rubens Júnior (MA) já manifestaram interesse em participar da CPMI. O PCdoB, que faz parte da federação com o PT e divide as indicações com a legenda, também quer estar presente com Jandira Feghali (RJ).

Entusiasta da CPI, Lindbergh concorda que a votação do marco fiscal acontecerá antes.

— Se vota o marco fiscal no dia 16, estou calculando a instalação da CPI logo depois, 17 ou 18 — declarou.

Outro fator que contribui para a demora da instalação é a ausência do presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), que está em Nova Iorque. Por conta disso, a maior parte dos líderes da Casa não deve formalizar as escolhas nesta semana.

O líder do MDB, deputado Isnaldo Bulhões (AL), acompanha Lira na viagem. O deputado ainda não indicou formalmente quem ocupará a vaga pelo partido, mas já há o entendimento de que será Emanuel Pinheiro Neto (MT).

— Vou alinhar (as indicações) com os demais líderes, mas já há nomes definidos. Vamos organizar o calendário, pois depende mais do presidente (do Congresso) Rodrigo Pacheco — disse.

A base do governo no Congresso inicialmente atuou para impedir a instalação da CPI. A avaliação era que o colegiado atrapalharia a votação de iniciativas importantes. No entanto, houve uma mudança de rumos após Goncalves Dias, ex-ministro do Gabinete de Segurança Institucional (GSI), ter aparecido em gravações ao lado dos autores dos ataques no Palácio do Planalto. O vídeo, que foi divulgado pela CNN Brasil, foi usado por opositores para pregar no governo uma omissão que teria permitido as depredações.

Com o apoio do governo, Pacheco leu o requerimento e abriu caminho para a CPI começar a funcionar. O governo calcula ter cerca de 20 dos 32 integrantes da comissão, mas alguns dos partidos considerados estão rachados, principalmente na Câmara, entre apoiar ou não o governo, como União Brasil, PP, Republicanos e PSD.

Lira, que tem influência sobre o cargo na cúpula da comissão que será ocupado por um deputado, já manifestou interesse por ter o deputado Arthur Maia (União-BA) na presidência da CPI. Já no Senado, o MDB deve indicar a relatoria, que deve ficar com Eduardo Braga (AM) ou Renan Calheiros (AL).

A comissão quer investigar a série de depredações dos prédios que sediam os Três Poderes. Os ataques foram feitos por apoiadores do ex-presidente Jair Bolsonaro, que pediam um golpe militar para retirar Lula da Presidência da República.

O Globo