Lula insinua que presidente do BC sabota o país
Fotos Ricardo Stuckert/PR
Numa das investidas mais pesadas contra o presidente do Banco Central (BC), Roberto Campos Neto, Luiz Inácio Lula da Silva disse, ontem, sem citar o nome do desafeto, “que aquele cidadão não tem compromisso com o país, tem compromisso com o outro governo (de Jair Bolsonaro)” e que a autoridade monetária tem autonomia, mas “não é intocável”. Para o presidente da República, que veio a Londres para a coroação do rei Charles III, a questão não é a autonomia, mas o compromisso que a diretoria da instituição tem com a economia do país.
“Indiquei (Henrique) Meirelles para o Banco Central. Ele era do PSDB. Eu nem o conhecia. Duvido que aquele cidadão (Campos Neto) tenha mais autonomia que o Meirelles, que tinha a responsabilidade de ter um governo discutindo com ele. Esse cidadão (Campos Neto) não tem. Não tem nenhum compromisso comigo. Tem compromisso com o Brasil? Não tem. Tem compromisso com o outro governo que o indicou. Isso é importante ficar claro. E tem compromisso com aqueles que gostam de taxa de juros alta. Porque não há outra explicação”, afirmou.
Na quarta-feira, o Comitê de Política Monetária (Copom) manteve a taxa básica em 13,75% ao ano, dando sinais de que não mexerá na Selic tão cedo. O presidente lembrou que Campos Neto disse, recentemente, que para o Brasil atingir a meta de inflação de aproximadamente 3%, seria preciso que os juros para perto de 20%.
“Está louco? Esse cidadão não pode estar falando a verdade. Se eu, como presidente, não puder reclamar dos equívocos do presidente do BC, quem vai reclamar? O presidente americano? Me desculpem, o BC tem autonomia, mas não é intocável”, apontou.
Para Lula, a atuação do BC está diretamente relacionada ao crescimento econômico e à geração de empregos. “Com juros de 13,75% ao ano, não se resolve esses dois casos”, assinalou. O presidente garantiu que a economia vai crescer neste ano porque o governo “está injetando dinheiro na veia”. “Temos de criar empregos, dar dignidade aos trabalhadores”, complementou.
Apesar das duras críticas ao BC, Lula afirmou que não bate na instituição “porque o BC não é gente”. “Só não concordo com a atual política de juros. Sei que tem a meta de inflação, definida pelo Conselho Monetário Nacional (CMN), mas que, então, se mude a meta. Pode mudar a hora que quiser”, ressaltou. Segundo ele, empresários do varejo e da indústria e trabalhadores não suportam mais as altas taxas de juros. “Não tem crédito. Sem crédito, fica difícil a economia crescer”, acrescentou.
O presidente lembrou que, nos dois primeiros mandatos, quando o BC de Meirelles aumentava a taxa básica de juros (Selic), o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico Social (BNDES) reduzia a TJLP, “que não existe mais, acabou”. Lula disse, ainda, que o governo tem o Banco do Brasil, a Caixa, o BNDES e o Banco do Nordeste com capacidade de emprestar, mas o BC dificulta. Destacou, ainda, que, se precisar, fará um acordo com empresários para reduzir preços e, assim, derrubar a inflação.
Lula também não economizou nas críticas à privatização da Eletrobras. “O governo tem 43% das ações da empresa, mas apenas 8% dos votos. Isso não é possível. Se o governo quiser comprar a Eletrobras de volta, terá de pagar três vezes o valor oferecido por outro comprador. Além disso, depois que a empresa foi privatizada, os salários dos diretores passaram de R$ 60 mil para R$ 300 mil, e os conselheiros recebem R$ 200 mil por uma reunião por mês”, frisou.