Mimimi da base governista cria problemas na CPMI do Golpe
Fotos de divulgação/Agência Senado
Às vésperas da instalação da CPI dos Ataques Golpistas, marcada para amanhã, senadores da base aliada têm se queixado do que consideram falta de articulação do governo para enfrentar os desgastes que poderão ser gerado pelos trabalhos no colegiado. Nesse cenário, parlamentares passaram a recusar a relatoria, e até mesmo a participar da comissão, alegando receio de ficaram expostos pela falta de estratégia do Palácio do Planalto.
A atuação do governo incomodou, por exemplo, os senadores Renan Calheiros (MDB-AL) e Omar Aziz (PSD-AM), que foram relator e presidente da CPI da Covid, respectivamente. A presença deles era almejada pelo Executivo pela experiência de enfrentamento na outra comissão, que emparedou o governo Bolsonaro. Ambos foram cotados para a relatoria da CPI dos Ataques, mas avisaram aos seus partidos que não querem nem ser membros da comissão.
O PSD já protocolou a indicação de Aziz e o líder do partido, Otto Alencar (BA), tem a esperança de fazê-lo participar. Por outro lado, a ausência de Renan é dada como certa pela articulação do governo no Senado. Também desmotivado, o líder do MDB na Casa, Eduardo Braga (AM), não decidiu se vai participar. Ele é o mais cotado para a relatoria.
O MDB do Senado tem duas vagas de titulares e mais duas de suplente, mas ainda não escolheu nenhum membro. A previsão é que uma definição aconteça hoje.
Nomes do MDB dizem que, antes de o partido definir os membros, o governo precisa esclarecer qual será a sua estratégia. A bancada da sigla alega que o Planalto ainda não expôs o que espera dos parlamentares da base. Além disso, a CPI é considerada pouco relevante pelo MDB, que tem preferência por ter protagonismo em iniciativas que envolvam economia e infraestrutura.
A análise do novo marco fiscal também tem mobilizado mais os senadores do MDB e do PSD do que a CPI. O governo sinalizou que o PSD ficará com a relatoria do projeto no Senado. Quanto à CPI, ainda há o temor entre parlamentares de se desgastarem tanto com o eleitorado de direita quanto com o de esquerda.
Em outra frente de insatisfação, Renan se queixou a interlocutores que o governo não o defendeu das críticas do presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), que chegou a vetar o emedebista para a relatoria. Os dois são adversários políticos em Alagoas. Já Aziz não gostou de o Planalto ter aceitado que a presidência da CPI fique com o deputado Arthur Maia (União-BA), aliado de Lira, em vez de indicar alguém mais alinhado ao governo.
Integrantes do bloco do presidente da Câmara dizem ter um acordo para que Arthur Maia comande a CPI. Apesar disso, senadores governistas querem que o posto fique com o Senado. A expectativa é que um acordo seja alinhavado hoje.
Além de conduzir as sessões, a presidência define as datas e a ordem das convocações da CPI. Já o relator é o responsável por elaborar o plano de trabalho e construir o parecer com as conclusões da comissão.
A escolha de Arthur Maia, que apoiou Jair Bolsonaro na eleição do ano passado e continua adversário do PT na Bahia, não tem gerado críticas do PT na Câmara. A bancada prefere não entrar em embate com Lira.
Considerado da ala independente do União, Maia tem se aproximado do governo e indicou um aliado à superintendência da Companhia de Desenvolvimento dos Vales do São Francisco e do Parnaíba (Codevasf) na Bahia. Petistas tentaram retirar seu apadrinhado do cargo, sem sucesso.
O deputado Rogério Correia (PT-MG), que participará como titular da CPI, afirmou que discorda de muitas opiniões de Maia, mas que não o considera bolsonarista.
— Ele foi presidente da comissão que analisou a PEC 32, a da reforma administrativa. Tínhamos posição diferente, mas ele foi muito respeitoso, foi um presidente democrático. Pelo que conversamos, ele tem consciência de que o que houve em 8 de janeiro foi uma tentativa de golpe —afirmou.
A oposição tentou se aproveitar do cenário e pegar a relatoria da CPI. A ideia era aproveitar que os partidos da base do Senado ainda não haviam feito as indicações para escolher o senador Esperidião Amin (PP-SC) para o posto.
Mesmo sem as indicações dos blocos governistas, a CPI já tinha o número mínimo que permitia sua instalação. A oposição chegou a marcar a data para terça-feira, mas os governistas resolveram destravar as indicações e desmontaram a estratégia.