Moraes vê Bolsonaro preso no fim do ano
Foto: Cristiano Mariz/Agência O Globo
Estrela da festa mais badalada do meio jurídico brasileiro – o casamento do advogado Rodrigo Salomão, no último final de semana –, o ministro do Supremo Alexandre de Moraes fez uma previsão sobre o tumulto político provocado pelas diversas investigações sob seu comando envolvendo o bolsonarismo.
Cercado por convidados na varanda do hotel Fairmont, em Copacabana – entre eles ministros do Supremo Tribunal Federal e do Superior Tribunal de Justiça – Moraes foi questionado por um deles: “Quando é que o Brasil vai acalmar? Já deu o que tinha que dar?”.
Apesar de um tanto enigmática, a resposta descrita à equipe da coluna por convidados que testemunharam a cena forneceu um horizonte para o desfecho de algumas das principais investigações em curso no Supremo e no Tribunal Superior Eleitoral (TSE): “Nos próximos seis meses, vai continuar piorando, depois acalma.”
Relator do inquérito das fake news, das milícias digitais e dos atos golpistas de 8 de janeiro, além de uma investigação sobre a suspeita de fraude na carteira de vacinação de Jair Bolsonaro e sua filha, Laura, o ministro do Supremo e presidente do TSE concentrava as atenções por onde ia, no evento onde estavam outros três magistrados do STF e 17 integrantes do STJ, mas não havia políticos.
“Onde Moraes ia, todo mundo ia atrás. A festa se transferiu para a varanda quando o ministro foi para lá fumar o seu charuto”, relatou à equipe da coluna um observador dos movimentos dos convidados.
O casamento do filho do ministro do STJ Luis Felipe Salomão ocorreu no sábado à tarde, na Paróquia São Paulo Apóstolo, e mobilizou um ostensivo aparato de segurança pelas ruas de Copacabana.
Depois, a elite do meio jurídico concentrada ali foi para o hotel Fairmont, em Copacabana, um dos mais exclusivos do Rio. Na festa, multiplicaram-se as rodas de conversa sobre a temperatura política do país.
Ao falar de sua projeção para o humor político nacional, Moraes não mencionou explicitamente os nomes de Lula nem de Bolsonaro. Nenhum dos presentes quis entrar mais a fundo no assunto, mas todos entenderam o recado.
Para quem viu a cena ficou claro que Moraes estava falando de quanto tempo será necessário para aprofundar ainda mais as investigações que fecham o cerco contra o clã Bolsonaro.
Os seis meses mencionados por Moraes também têm a ver com um prazo fatal para sua estratégia no TSE. Em novembro se encerra o mandato do corregedor Benedito Gonçalves, fiel aliado de Moraes nos principais julgamentos analisados no plenário do tribunal.
Gonçalves é o relator de 16 ações que investigam a fracassada campanha de Jair Bolsonaro à reeleição. O objetivo de Moraes e de Benedito é julgar pelo menos a ação que trata dos sucessivos ataques de Bolsonaro ao sistema eleitoral – e que tem como pano de fundo a infame reunião do então presidente da República com embaixadores – nos próximos meses, antes de Benedito deixar o tribunal.
Os dois são considerados, tanto por adversários quanto por aliados de Bolsonaro, votos certos pela condenação do ex-ocupante do Palácio do Planalto.
Depois da saída do atual corregedor, as ações contra Bolsonaro e seu companheiro de chapa, o general Walter Braga Netto, vão automaticamente para Raul Araújo, ministro mais palatável aos bolsonaristas, que também estava no casamento.
No ano passado, Araújo deu uma liminar proibindo manifestações políticas de artistas durante o festival de Lollapalooza e votou contra a multa de R$ 22,9 milhões imposta por Moraes contra o PL, partido de Bolsonaro, por lançar suspeitas infundadas contra as urnas eletrônicas.
Moraes foi embora antes do fim da festa no Fairmont. O ministro tem o hábito de dormir pouco – entre três e quatro horas por dia –, mas costuma tirar o sono de Bolsonaro e seus aliados.