Novo Conselhão de Lula tem mais ativistas que empresários
Foto: José Cruz/Agência Brasil
Recriado neste ano pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva, depois ter sido extinto por Jair Bolsonaro, o Conselho Nacional de Desenvolvimento Econômico Social Sustentável (CDESS) teve sua composição alterada para acomodar novas forças no governo. Apesar do apelo por mais espaço de mulheres no Executivo, elas são apenas quatro em cada dez conselheiros — e chegam a menos de um terço entre os representantes do empresariado que compõem o colegiado.
Levantamento feito pelo GLOBO mostra que ativistas, organizações não governamentais (ONG) e entidades de classe ganharam cadeiras no Conselhão do terceiro mandato de Lula. De um total de 245 membros, 55 (ou 22,4%) fazem parte dessa categoria. Há 20 anos, eram 15 dos 92 integrantes (16,3%). A comparação foi feita em relação ao colegiado instituído originalmente em 2003.
Nesse grupo constam tanto organizações que acompanham políticas públicas sobre áreas de interesse, como o Todos Pela Educação, quanto movimentos sociais e lideranças que lutam por diferentes causas, a exemplo de Lígia Moreiras, criadora do projeto “Cientista que virou mãe”.
Empresários, sindicalistas, acadêmicos e personalidades, por outro lado, perderam espaço. O empresariado, que era a maioria (53,2%) do conselho, com 49 representantes, agora ocupa 49,8% das vagas.
Os 12 porta-vozes de sindicatos e centrais sindicais participantes em 2003 correspondiam a 13% do conselho. Agora, apesar de mais numerosos (27), representam 11%. Pesquisadores, professores, estudiosos e outras celebridades passaram de 17,3% para 16,7%: eram 16, e agora somam 41.
A divisão de gênero no atual Conselhão é desigual: 60% das cadeiras são ocupadas por homens e 40% por mulheres. A maior discrepância é no empresariado, cuja composição é 71,3% masculina e 28,6% feminina. Entre as representantes estão Luiza Trajano, que comanda o Magazine Luiza, e Alessandra França, diretora do Banco Pérola.
O grupo de acadêmicos e personalidades é o mais paritário: soma 20 homens e 21 mulheres. A sociedade civil tem maioria de mulheres (60%). No dia em que Lula assinou o decreto retomando o órgão, Luiza Trajano falou sobre o tema.
— Muito obrigado por termos 40% na composição, mas vamos pular para 50% — brincou a empresária.
Uma das novidades do novo conselho é a presença de comunicadores digitais, inexistentes 20 anos atrás, quando a internet engatinhava. O governo atraiu para o colegiado o maior nome do YouTube brasileiro, Felipe Neto, que tem 41 milhões de inscritos na plataforma.
Populares nas redes sociais, personalidades como a culinarista Bela Gil, defensora da alimentação saudável, e Nath Finanças, criadora de conteúdo focado em educação financeira para pessoas de baixa renda, também reforçam o grupo. Outra novidade foi a inclusão do termo “sustentável” no nome do conselho.
A volta do Conselhão foi colocada como contraponto ao ex-presidente Jair Bolsonaro, que havia extinguido o colegiado. Sob Dilma Rousseff, porém, o órgão ficou abandonado por um ano e meio. Embora tenha o intuito de ser um espaço de debate, o Conselhão assumiu outra função no primeiro mandato de Lula.
— Servia mais para o governo se relacionar com lideranças empresariais do que para formular política pública — diz Henrique Almeida de Castro, pesquisador do Núcleo de Direito e Economia Política da FGV Direito SP. — No segundo mandato, o Conselhão foi o mais ativo, especialmente durante a crise de 2008.
Segundo Castro, neste ano, a impressão é que Lula quer fazer o mesmo do primeiro mandato, que é usar o órgão como espaço para divulgar as políticas do governo e conseguir apoio
— Já na primeira reunião, Lula falou contra o nível da taxa de juros e foi amplamente aplaudido, inclusive por grupos ligados ao mercado financeiro. Isso serve para pressionar o Congresso, o BC — completa o pesquisador.