
Paulistanos não sabem quem é seu prefeito
Foto: BRUNO ESCOLASTICO/PHOTOPRESS/ESTADÃO CONTEÚDO
O silêncio de Ricardo Nunes (MDB), que pouco aparece em entrevistas, pronunciamentos e até na imprensa, fez o nome do prefeito de São Paulo ser tratado como um “mistério” nas redes sociais — com usuários cobrando que se fale dele. O empresário, de 55 anos, concorreu às eleições de 2020 como vice-prefeito, mas assumiu o comando da cidade após a morte de Bruno Covas (PSDB), que tratava um câncer. A vida pública discreta de Nunes deixou muitos eleitores confusos sobre quem estava assumindo a prefeitura. Em meio ao crescimento da violência em São Paulo, nos últimos meses, muitos foram às redes sociais questionar a presença do político no dia a dia da cidade e seu suposto hábito de ficar “escondido”, apontado também durante a campanha, quando o candidato a vice não costumava comparecer aos eventos.
Autor do “Escola Sem Partido”: a trajetória do prefeito na Câmara Filiado ao MDB desde os 18 anos e eleito vereador em 2012. Aos 21 anos, disputou pela primeira vez as eleições, mas não foi eleito. Conseguiu as vagas de vereador em 2012 e 2016, quando quase dobrou sua votação, passando de 30,7 mil votos para 54,6 mil. Católico, ele fez parte da bancada religiosa na Câmara Municipal e atuou contra a “ideologia de gênero”. O termo preconceituoso, não reconhecido pelo meio acadêmico, é frequentemente utilizado por segmentos da direita que criticam a abordagem de questões sobre a diversidade de gênero e sexualidade nas escolas. “Eu sou pela sua família, gênero não”, bradou o então vereador em uma sessão da Câmara, em 2015. Foi coautor do projeto de lei que pretendia implementar o “Escola sem Partido” na capital paulista. Atuou em CPIs, como da Sonegação Tributária, Dívida Ativa, Theatro Municipal e Evasão Fiscal. Os trabalhos dessas comissões resultaram na entrada de mais de R$ 3 bilhões nos cofres públicos, segundo seu perfil no site da prefeitura. Se define como “prefeito de uma cidade acolhedora e que mais gera empregos no país, católico e palmeirense”. É assim que suas redes sociais se referem ao prefeito.
Ricardo enfrentou denúncias de um suposto envolvimento na máfia das creches. Reportagens da Folha divulgadas em 2020 mostraram que uma entidade ligada a Nunes pagou, com dinheiro público, empresas investigadas no esquema da máfia das creches, administradas por empresas privadas em convênio com a prefeitura, e também uma dedetizadora que pertence à família do parlamentar. Ele nega as acusações. O prefeito também já foi suspeito de violência doméstica contra a esposa. Em 2011, Regina Carnovale registrou um Boletim de Ocorrência contra o marido por violência doméstica, ameaça e injúria. Ela relatou à polícia que estava sendo perseguida e ameaçada por Nunes. Já durante a campanha ela disse que “não se lembrava” de denúncia. Nunes afirmou que a mulher estava “abalada” ao fazer o BO. Os dois permanecem casados. Covas saía em sua defesa em diferentes ocasiões. O tucano afirmou que botaria a “mão no fogo” por Nunes e chegou a discutir com repórteres ao ser questionado durante uma entrevista. Ainda assim, as suspeitas contra seu vice viraram alvo da oposição e ganharam destaque, fazendo Nunes se afastar da campanha. Eu não tenho nenhum processo. Nenhum. 25 anos de empresa, oito anos de mandato, não tenho um processo. Estão falando que tem denúncia de locação de prédio, não tem uma denúncia”Ricardo Nunes, em novembro de 2020, na tribuna da Câmara Municipal
O primeiro negócio de Ricardo Nunes foi um jornal de bairro, o “Hora de Ação”. O impresso cobria notícias da zona sul de São Paulo, berço político do prefeito. Ele abriu a empresa que o levou ao sucesso pouco tempo depois. A Nikkey, que trabalha no controle de pragas, hoje possui diversas filiais. Nunes também foi presidente de associações de empresários. Ele presidiu a AESUL (Associação Empresarial da Região Sul) e fundou a ADESP (Associação das Empresas Controladoras de Pragas do Estado de São Paulo).