PF e GSI disputam controle da segurança de Lula

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Foto: Ricardo Stuckert/Presidência

A cúpula da Polícia Federal está travando uma disputa nos bastidores com o novo ministro do Gabinete de Segurança Institucional (GSI), Marcos Amaro, para se manter à frente do comando da segurança do presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Em entrevista ao GLOBO, Amaro disse que a proteção do chefe do Poder Executivo pode voltar a ser feita por militares.

A declaração surpreendeu e irritou a chefia da PF. Desde o início do governo, o órgão ligado ao Ministério da Justiça se tornou responsável por zelar pela integridade física de Lula e do vice-presidente, Geraldo Alckmin.

O diretor-geral da PF, Andrei Rodrigues, e o delegado Alexsander Oliveira, que atualmente comanda a equipe de segurança presidencial, tentarão convencer Lula e aliados de que a proteção do mandatário deverá permanecer sob a responsabilidade de policiais federais. Eles avaliam que levar o comando da segurança presidencial aos militares não foi discutido com o presidente e que Amaro, ao falar publicamente sobre isso, se antecipa a uma decisão de Lula.

Em entrevista ao GLOBO, Amaro disse que há “sinalização” de Lula para que os militares voltem a comandar esse trabalho.

— Há uma sinalização do presidente de que essa segurança imediata vai retornar para o GSI. Hoje, há a quebra de um fundamento, que é a unidade de comando. Quando o presidente chega para um evento, 80% da segurança já está estabelecida antecipadamente. Não é a segurança imediata. Já foi feito o credenciamento de quem vai ficar mais próximo do presidente, a verificação dos antecedentes do garçom que vai levar a água. E quem faz isso é o GSI — disse o novo comandante do órgão.

No encontro com Lula, a cúpula da PF argumentará que as principais democracias do mundo têm civis à frente dessa tarefa, como Estados Unidos, Alemanha, Espanha e França. Outro entendimento é que o GSI ainda está passando por um processo de investigação dos atos golpistas de 8 de janeiro, o que o coloca sob suspeita para retomar uma atividade considerada sensível: zelar pela proteção do chefe do Poder Executivo.

Para o novo ministro, porém, a pasta não tem mais nenhum membro com ligações políticas, pois passou por um processo de renovação do seu quadro desde a invasão ao Palácio do Planalto.

Desconfiado de alguns militares, Lula decidiu criar em janeiro a Secretaria Extraordinária de Segurança Imediata, comandada pela Polícia Federal. Esse órgão assumiu as atribuições do GSI e passou a zelar pela vida do presidente e seu vice. A previsão é que essa nova estrutura funcione até 30 de junho, prazo suficiente para reestruturar o esquema de segurança do chefe do Poder Executivo.

Com influência junto ao núcleo duro do governo, a PF passou a ganhar a confiança de Lula e a trabalhar para tornar a secretaria permanente, evitando a interferência de militares nas decisões cotidianas que envolvam a proteção presidencial.

Atualmente, a segurança de Lula é dividida em três camadas e não tem um comando unificado: a imediata é comandada pela PF, enquanto as seguranças aproximada e afastada — em eventos e viagens — ficam com o GSI.

A Secretaria Extraordinária de Segurança Imediata tem 300 policiais, que também são responsáveis pela segurança de familiares do presidente e do vice. Desde janeiro, quatro turmas foram capacitadas na Academia Nacional de Polícia (ANP), em Brasília, para atuar em todo tipo de agenda do presidente e do vice. O grupo é predominantemente de integrantes da PF, mas também conta com o apoio de policiais militares selecionados em São Paulo, na Bahia e no Maranhão

A disputa entre a Polícia Federal e o GSI se iniciou ainda na transição, quando a secretaria extraordinária foi desenhada pela equipe liderada pelo delegado Andrei Rodrigues, atual diretor-geral da PF.

O Globo