Quebra-cabeça golpista se encaixa perfeitamente

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Foto: PEDRO KIRILOS/ESTADÃO

A Polícia Federal atirou no que viu e acertou no que não viu: a operação para desbaratar o que o ministro Alexandre de Moraes chamou de “organização criminosa” mirava a falsificação de atestados de vacinação de covid no sistema do Ministério da Saúde, mas acertou em mensagens que são ouro puro (não joias das Arábias…) para as investigações sobre a tentativa de golpe no Brasil.

Um major expulso do Exército, com sete prisões nas costas, suspeito de repassar armas para quadrilhas, que diz “saber tudo” da morte de Marielle Franco, ajudou na fraude das vacinas e gravou áudio sobre o andamento de um golpe de Estado para o ajudante de ordens do presidente, um tenente coronel da ativa, que estava na antessala do gabinete presidencial.

No áudio, revelado pela CNN Brasil, o ex-major Ailton Barros fala as seguintes pérolas (também não das Arábias): era preciso que o comandante do Exército “faça o que tem de fazer”, inclusive um pronunciamento; senão ele, o presidente Jair Bolsonaro faria; prender Alexandre de Moraes num domingo; e ler as portarias e decretos do golpe na segunda-feira, com GLO, leia-se, Exército nas ruas.

Loucura? Mas combina com o atentado de 8/1 e a minuta de golpe que a PF encontrou na casa do ex-ministro da Justiça Anderson Torres, que mapeava os votos do agora presidente Lula no primeiro turno para jogar a PRF contra eleitores petistas. Pela minuta (“portaria ou decreto”), o TSE seria deposto por uma comissão mista de civis e militares. É golpe ou não?

“Nós temos a caneta e temos a força. Braço forte, mão amiga”, diz Ailton na mensagem, tratando o Exército Brasileiro como golpista e mequetrefe. Logo ele, amigão do ex-presidente, candidato derrotado como “01 do Bolsonaro”, que é mal visto pelos antigos pares: “esse major é de péssima reputação! Não vale nada”, atesta um general.

Mas esse que “não vale nada” não fala sozinho. Eduardo Bolsonaro: “basta um soldado e um cabo para fechar o STF”. Ex-ministro da Educação (da Educação!) Abraham Weintraub, na reunião ministerial que expôs as vísceras do governo Bolsonaro: “Eu botava esses vagabundos todos na cadeia, começando no STF”. E quantas vezes o próprio presidente liderou atos contra Supremo e ministros, particularmente Alexandre de Moraes?

Tudo isso explica o 8 de janeiro e quem botava a mão na massa para Bolsonaro, por exemplo, embolsar os tesouros da Arábia Saudita e depois entrar nos EUA com atestados falsos de vacina, era o tenente coronel da ativa Mauro Cid. Primeiro de turma no Exército, agora está na cadeia, como Anderson Torres e Ailton Barros. Todos juntos, todos embolados.

Estadão