Aliados de Ministra do Turismo não apoiam governo

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Foto: Reprodução

Mantida no cargo apesar dos desgastes pela suposta ligação com milicianos e da falta de adesão do seu partido, o União Brasil, ao governo, a ministra do Turismo, Daniela Carneiro, não tem rendido nem os cinco votos do dos deputados do seu grupo político para as matérias de interesse do governo na Câmara. O partido passou a pressionar o Executivo para que a substitua pelo deputado Celso Sabino (PA).

Daniela e o marido, o prefeito de Belford Roxo (RJ), Waguinho Carneiro, fazem parte de um grupo político composto por outros cinco deputados federais: Chiquinho Brazão, Marcos Soares, Dani Cunha, Juninho do Pneu e Ricardo Abrão (que é suplente dela). Dos eleitos pelo União no Rio, apenas Murillo Gouvea é mais distante deste grupo.

A ministra e os cinco deputados pediram ao Tribunal Superior Eleitoral (TSE) para que possam sair do União Brasil sem perderem seus mandatos por causa de uma briga entre Waguinho e o presidente nacional do partido, o deputado Luciano Bivar (PE). A ação está pronta para que o ministro Nunes Marques decida e, caso recebam o aval, eles devem ir juntos para o Republicanos.

Daniela é um dos três ministros que deveriam representar o União Brasil no governo, mas sua escolha não é reconhecida pelo resto da bancada, que diz que ela não passou pelo aval dos deputados do partido e que foi uma opção pessoal do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) pelo apoio de Waguinho no segundo turno da eleição. Além disso, eles reclamam que ela distribuiu os cargos na Pasta para seus aliados e não contemplou outros nomes da Câmara.

A nomeação dela não foi capaz de aproximar o governo dos 59 deputados do União e nem mesmo garantir para Lula os votos dos cinco parlamentares sobre os quais ela e o marido têm alguma ascendência. Levantamento do Valor no histórico de votações da Câmara mostra que eles contrariaram a orientação do Executivo pelo menos sete vezes desde abril e que as principais derrotas do governo este ano no plenário da Câmara tiveram contribuição de pelo menos parte deles.

Foi o caso do requerimento de urgência ao projeto que criminaliza as “fake news”, que só obteve 238 dos 257 votos necessários para ser aprovado. Chiquinho Brazão e Ricardo Abrão votaram a favor, enquanto Juninho do Pneu foi contra. Dani Cunha e Marcos Soares não votaram, o que, neste caso, contribuiu para a derrota da proposta.

O projeto de decreto legislativo (PDL) que suspende a regulamentação do novo marco do saneamento básico foi o primeiro “recado” do Centrão de insatisfação com o governo e teve três votações. Em todas, Dani Cunha e Brazão posicionaram-se contra o decreto de Lula: eles ajudaram a permitir o regime de urgência, a rejeitar o pedido de adiamento da votação e a aprovar a proposta. Os outros três não votaram.

O apoio de todo ou pelo menos parte do grupo político da ministra também ocorreu nas aprovações do projeto que estabelece um marco temporal para as terras indígenas, da emenda do PL que ampliou o prazo de adesão ao Programa de Regularização Ambiental (a simbólica primeira derrota do governo Lula em plenário) e de urgências como a que suspende resolução da Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) sobre as regras de tarifa para energia solar. Em todas essas votações o governo orientou pela rejeição e eles se manifestaram a favor.

Em nota, Dani Cunha disse que ajudou a aprovar matérias do governo que são importantes para o país, como o novo marco fiscal, e que parte das votações contra a posição do Executivo ocorreu por orientação do partido, como no marco temporal e no decreto do saneamento. “A deputada tem posicionamento independente, nunca foi governo nem iludiu ninguém com essa possibilidade”, disse a filha do ex-presidente da Câmara Eduardo Cunha, adversário do PT. Procurada, a ministra do Turismo não se manifestou. Os demais deputados do grupo não foram encontrados.

Valor Econômico