Robôs alagoanos encurralam Lira

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Foto: Gabriela Biló/Folhapress

Assessores, aliados e até doadores de campanha do presidente da Câmara dos Deputados vêm sendo investigados por desvios milionários de dinheiro público da educação em municípios pobres. Em qualquer lugar do mundo, o líder do Poder Legislativo seria o principal interessado no avanço da investigação para demonstrar sua inocência. Qualquer lugar, menos no Brasil. Lira já reclamou da operação da Polícia Federal com o presidente Lula, o ministro da Justiça, Flávio Dino, e o diretor-geral da PF, Andrei Rodrigues. Não esconde sua insatisfação junto a aliados. Deputados do centrão avaliam que o timing – logo após a votação da MP da reestruturação dos ministérios, em que Lira emparedou Lula, cobrando mais “combustível” na forma de emendas e cargos para o governo não parar – foi perfeito demais.

Lula lembrou disse a ele e a assessores próximos que não interfere na autonomia da PF e a maior prova disso seriam as operações contra si, seus aliados e os governos do PT realizadas ao longo de suas outras gestões e as de Dilma Rousseff. Certamente, Michel Temer e Jair Bolsonaro, que também foram atingidos por operações, podem corroborar o petista. Lira sabe que não é possível colocar um cabresto em toda a Polícia Federal. Mas quer botar pressão em cima do governo. Para jogar a responsabilidade pelo que aconteça com ele no colo de Lula, para reduzir os vazamentos de informação sobre a operação, para que o petista controle o senador Renan Calheiros, arqui-inimigo de Lira, por achar que ele é quem vem bombando as denúncias. Ele não é alvo da investigação da Polícia Federal sobre desvio de dinheiro público através de mutretas com a venda de kits de robótica para escolas de Alagoas, escândalo revelado pela Folha de S.Paulo em abril do ano passado, levando à operação da PF. Ainda. Mas seu aliado, Edmundo Catunda é dono da empresa Megalic, vencedora de licitação de kits com sobrepreço e alvo. Luciano Cavalcanti, seu ex-assessor de Lira, exonerado após o escândalo, foi flagrado coletando dinheiro do esquema e é alvo. Murilo Nogueira Júnior doou o uso de sua picape a Lira para que ele fizesse campanha eleitoral, mas o veículo foi o mesmo usado na coleta de cascalho desviado, por isso se tornou alvo. E o jornal O Estado de S.Paulo divulgou, nesta terça (6), que Lira é o autor da indicação de R$ 32,9 milhões do orçamento secreto para a compra dos tais kits de robótica nos municípios investigados em Alagoas. A PF avalia que possíveis fraudes podem ter gerado prejuízo de R$ 8,1 milhões aos cofres públicos. Como vão se portar aliados, assessores e doadores de campanha envolvidos na maracutaia diante de um Lira que já vem usando a tática imortalizada por Bolsonaro do “cada um é responsável por seu CPF”? Ou seja, cada um por si e Deus acima de todos. Vão assumir a bronca sozinhos ou tentarão envolver o presidente da Câmara? E como vão reagir deputados do centrão que têm seus esqueletos no armário? O caso dos kits não é único, mas chama a atenção para os demais. E há profusão de denúncias de desvios envolvendo o Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação (FNDE), dirigido na gestão passada por um ex-assessor do então ministro-chefe da Casa Civil e líder do centrão, o senador Ciro Nogueira (PP-PI). Através do milagre da transmutação, licitações com sobrepreço historicamente se transformaram em lucro fácil para empresários amigos da corte, mas também em cascalho para o bolso dos políticos que tornaram isso possível – que podem usá-lo em coquetéis de camarão ou em financiamento eleitoral. A PF escarafunchar o dinheiro que fluiu para Alagoas deixa o cabelo de muita gente em pé. Em reunião com Lira, nesta segunda (5), Lula sugeriu a Lira que, estando convicto de sua inocência, que fosse à luta para provar como ele fez. Lira tem convicção o suficiente? Como efeito colateral, o caso pode levar a um reequilíbrio de forças. Pegou mal a imagem da Câmara chantageando o governo, ameaçando quebrar a estrutura ministerial se o pleito por emendas e cargos não fossem rapidamente atendidos. Isso pode não deflagrar operações da PF, mas dá um incentivo extra a policiais que estão investigando mutretas há meses envolvendo os mesmos políticos. Neste momento, o melhor para eles é baixar a fervura a fim de evitar uma escalada que, no final, não tem vencedores.

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