Valdemar quer PL surfando no conservadorismo paulista
Foto: Breno Esaki/Especial Metrópoles
A rifada na candidatura do deputado federal Ricardo Salles à Prefeitura de São Paulo e a articulação por uma coligação com o prefeito Ricardo Nunes (MDB) são a face mais visível de um ambicioso plano do presidente nacional do PL, Valdemar Costa Neto, para atingir o comando de 150 das 645 prefeituras paulistas nas próximas eleições.
De olho no espólio deixado pelo PSDB no estado, após quase 30 anos dos tucnaos à frente do Palácio dos Bandeirantes, Valdemar busca alianças que garantam as prefeituras das maiores cidades ao PL e apostará no ex-presidente Jair Bolsonaro, para quem deu um cargo no partido, como principal cabo eleitoral.
“Temos foco nas cidades com mais de 200 mil habitantes e a certeza de que cada candidato nosso vai conseguir levar 30% dos votos de Bolsonaro”, declarou Valdemar nessa segunda-feira (5/6), durante inauguração da sede municipal do PL em São José do Rio Preto, cidade com mais de 460 mil habitantes, no interior paulista.
Atualmente, o PL está na liderança de 83 prefeituras paulistas: são 41 prefeitos e 42 vice-prefeitos eleitos pelo partido. Apenas o prefeito de Suzano, Rodrigo Ashiuchi, comanda um município com mais de 200 mil habitantes – ao todo, 41 cidades paulistas têm população igual ou superior a isso.
A chegada de Bolsonaro ao PL, em novembro de 2021, fez o partido eleger as maiores bancadas da Câmara dos Deputados e da Assembleia Legislativa de São Paulo (Alesp). Sob a promessa de palanques recheados de figurões, maior tempo de propaganda em TV e rádio, além de um polpudo fundo eleitoral, Valdemar espera atrair prefeitos tucanos para o seu partido e negociar chapas com outras legendas.
No entanto, a prioridade é lançar candidaturas próprias nas cidades mais populosas. É o caso de Santos, no litoral paulista, com 352 mil eleitores e administrada pelo PSDB há 17 anos. A aposta de Valdemar para a prefeitura santista é a deputada federal Rosana Valle, presidente paulista do PL Mulher, reeleita no ano passado com 216 mil votos.
O PL também estuda lançar as candidaturas do deputado federal Capitão Augusto para Barueri; dos deputados estaduais Alex de Madureira e Danilo Balas para Piracicaba e Sorocaba, respectivamente; e do vice-prefeito Luiz Zacarias para Santo André. Clóvis Volpi, prefeito cassado de Ribeirão Pires, tem o nome cotado para disputar a prefeitura de Mauá.
Em São José do Rio Preto, cidade com mais de 320 mil eleitores, Valdemar anunciou para concorrer à prefeitura a pré-candidatura de Fábio Marcondes, secretário municipal de Esportes.
O anúncio foi feito durante o evento de segunda-feira, do qual também participou o senador Marcos Pontes (PL-SP), outro chamariz do partido para as eleições municipais. Valdemar, contudo, tem dito a aliados que o maior cabo eleitoral do partido nas eleições de 2024 será o ex-presidente Jair Bolsonaro.
“O Bolsonaro não vai numa cidade em que o PL tiver o candidato a vice”, declarou o presidente nacional do PL. No mesmo dia, o arranjo político com Ricardo Nunes e a desistência de Salles indicaram que São Paulo será exceção.
Maior cidade da América Latina, a capital paulista tem 9,3 milhões de eleitores e é apontada como a principal vitrine partidária do país. Por isso, conforme um interlocutor do PL disse ao Metrópoles, Valdemar trata com pragmatismo o provável apoio do PL à reeleição de Nunes.
O prefeito é visto em pesquisas internas como um nome mais palatável para o eleitorado paulistano, com maior tendência de voto à esquerda e centro-esquerda, do que o próprio Salles. À frente da máquina pública municipal, as chances de Nunes derrotar o deputado Guilherme Boulos (PSol), que lidera as pesquisas para 2024, é vista como maior.
Isso faz com que Valdemar, que participou de ao menos dois encontros entre Nunes e Bolsonaro no último mês, avalie indicar um nome do partido para ser o vice na chapa. A opção que domina os bastidores neste momento é o ex-chefe da Secretaria de Comunicação no governo Bolsonaro, Fabio Wajngarten, fiel escudeiro do ex-presidente.