Conheça deputado bolsonarista que “fez o L”

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Foto: Acervo/Coluna Paulo Cappelli

Uma foto em que Yury do Paredão (PL-CE) aparece “fazendo o L” ao lado de ministros de Luiz Inácio Lula da Silva (PT) despertou ira na sigla comandada por Valdemar Costa Neto, da qual faz parte o ex-presidente Jair Bolsonaro. Valdemar, inclusive, anunciou que pedirá ao diretório estadual no Ceará que providencie a expulsão do deputado federal eleito no ano passado, mas licenciado do posto desde o fim de junho. Antes, Yury já havia gerado desconforto na legenda ao posar com o próprio presidente Lula e por marcar presença, enquanto ainda era pré-candidato à Câmara, em um evento da Central Única dos Trabalhadores (CUT) em Juazeiro do Norte, sua cidade natal.

A atuação política do parlamentar, no entanto, é recente. Hoje com 34 anos, ele foi eleito pela primeira vez em 2022. Antes, fez carreira como empresário e produtor do ramo musical — atividade que lhe rendeu o apelido usado nas urnas. O escritório do hoje parlamentar foi o responsável por lançar, entre outros nomes, o cantor Jonas Esticado, também de Juazeiro do Norte, uma das principais estrelas do forró no país na atualidade.

Yury chegou a passar uma semana preso, em 2018, depois que um vídeo no qual ele aparecia atirando na direção de um funcionário em uma fazenda no Ceará viralizou nas redes sociais. “Vamos ver se ele tem cócegas agora”, dizia uma voz ao fundo da gravação, enquanto o empregado tentava se proteger, e outros homens riam da suposta brincadeira.

No fim do ano passado, recém-eleito deputado, Yury do Paredão envolveu-se em um novo escândalo. Na ocasião, a Polícia Federal cumpriu dez mandados de busca de apreensão e dois de prisão preventiva contra suspeitos de diversos crimes contra a administração pública, como fraude em licitações e lavagem de dinheiro.

Segundo a PF divulgou à época, o crime ocorreu em contratos firmados pela Prefeitura de Ouricuri, em Pernambuco, com empresas prestadoras de serviços sediadas nos estados do Pernambuco e do Ceará. Um dos mandados de busca e apreensão foi cumprido na residência de Yury do Paredão, que negou irregularidades: “É meu dever cívico dirimir qualquer dúvida que exista por parte das instituições”, pontuou à época, por nota. “Sigo no meu dia a dia com as minhas atividades e ciente de que transparência e prestação de contas são premissas fundamentais do homem público”, continuou.

Em março deste ano, já como parlamentar, Yury viu uma tragédia recair sobre sua família. A irmã dele, a médica e vereadora por Juazeiro Yanny Brena — eleita dois anos antes com amplo apoio do empresário —, foi encontrada morta ao lado do namorado, Rickson Pinto.

Posteriormente, a polícia concluiu que o companheiro da presidente da Câmara juazeirense assassinou Yanny e cometeu suicídio em seguida. ‘”Afirmo com clareza que a minha maior meta agora será combater o feminicídio”, escreveu Yuri no primeiro depoimento sobre o caso, uma semana após o crime, no dia em que a irmã completaria 27 anos.

A foto em que Yury aparece “fazendo o L” foi revelada pela coluna do jornalista Paulo Cappelli, no portal Metrópoles. O registro foi clicado em agenda na última quinta-feira com dois ministros de Lula: Paulo Pimenta (Comunicação Social) e Waldez Góes (Desenvolvimento Regional). Na sexta-feira, o próprio deputado licenciado publicou registros do encontro. Na ocasião, ele presenteou os dois integrantes do primeiro escalão do governo Lula com images do padre Cícero.

“Solicitei ao Diretório do PL no Ceará a abertura do processo de expulsão do deputado federal Yury do Paredão. Ao que tudo indica, o parlamentar licenciado parece não comungar com os ideais do Partido Liberal”, escreveu Valdemar no Twitter após a imagem vir à tona.

— O problema não é tirar fotos com ministros do governo. O problema é não estar alinhado com nosso partido — acrescentou o dirigente do PL ao GLOBO.

Em maio, Yury do Paredão esteve com integrantes do governo em uma reunião pela assinatura do Pacto Nacional pela Retomada de Obras da Educação Básica, em Crato, cidade vizinha a Juazeiro do Norte. Ele subiu ao palanque com o governador do Ceará, Elmano de Freias (PT), e o ministro da Educação Camilo Santana.

O parlamentar foi vaiado pelo público em todas as vezes nas quais seu nome foi anunciado ao microfone. A presença de Yury, além de não ter agradado a militância do PT, gerou ataques de seus colegas de bancada na Câmara dos Deputados. André Fernandes (PL-CE) foi um dos que criticou o conterrâneo:

‘Maior meta será combater o feminicídio’: Deputado irmão de vereadora morta no Ceará presta homenagem
– Deputado do PL que posa ao lado do maior ladrão da história do Brasil em foto tem que ser expulso imediatamente do partido. Quem tem “honra” em receber Lula, não tem honra para permanecer no nosso partido – disse Fernandes já naquela ocasião.

À época, porém, Valdemar descartou uma expulsão. Também via publicação no Twitter, o dirigente partidário afirmou que, caso Yury tivesse cumprimentado Lula por “cordialidade e respeito à liturgia do cargo de Presidente da República, está correto”.

No início deste ano, já como deputado, Yury também havia acenado ao Planalto. Enquanto o governo articulava para tentar evitar a instalação da Comissão Parlamentar Mista de Inquérito (CPMI) dos ataques golpistas do dia 8 de janeiro, o que acabou acontecendo, o político do PL chegou a retirar sua assinatura do requerimento.

O Globo