Novo ministro do Turismo exalta governismo de União Brasil
Foto: Minervino Júnior/CB/D.A.Press
Há menos de uma semana no cargo, o novo ministro do Turismo, Celso Sabino, já percorreu a Esplanada em busca de ampliar os recursos para a sua pasta. Quer “mais de R$ 500 milhões”. Inicialmente, pediu à junta orçamentária do governo. Se não conseguir, tem o Congresso, em especial, os partidos do Centrão, que o guindaram ao cargo em troca de votos no plenário da Câmara.
Essa parte, Sabino considera que já está cumprida. “O União Brasil foi o segundo partido que mais deu votos para o governo, depois do PT”, diz ele.
Os votos vieram antes do Plano Nacional de Desenvolvimento do Turismo, que ele pretende lançar em setembro deste ano. Quanto à Embratur, já esteve com o presidente da autarquia, Marcelo Freixo, e aguarda a decisão do presidente Luiz Inácio Lula da Silva. “É o presidente que sabe o que é melhor para o turismo no Brasil”, afirma, em entrevista ao Correio em seu gabinete. A seguir, os principais trechos.
Como está a relação política? Todos dizem que ministro vai ter de trazer voto. Quantos votos o senhor pode ajudar o governo a obter no Congresso em projetos estratégicos e importantes?
Essa parte da articulação política cabe ao ministro (Alexandre) Padilha. Aqui, cabe a nós desenvolver o turismo. Há uma disposição muito grande dos parlamentares de melhorar sua interlocução, de participar das políticas, de ajudar a construir os projetos normativos. Primeiro, é natural que os parlamentares tenham essa disposição, porque no mundo todo funciona dessa forma na composição dos Parlamentos.
O senhor foi chamado justamente porque a ministra Daniela Carneiro não estava trazendo o voto. Quando seu nome começou a ser ventilado, o próprio União Brasil ficou mais próximo do governo. A própria base atuou em prol do nome do senhor…
Tenho uma boa relação com os deputados do União Brasil, de outros partidos também. Tenho uma boa interlocução. Acredito que há uma disposição maior ainda de continuar votando com os projetos que o partido entende como importantes para o Brasil. Como tem feito. Se for pegar as votações na Câmara, o União Brasil foi o partido, nominalmente, que mais entregou voto nas votações que entendeu importante para o país, só ficou atrás do PT. Se você pegar os votos nas votações do arcabouço fiscal, reforma tributária, reorganização do ministérios, Carf (Conselho Administrativo de Recursos Fiscais)…
Na sua avaliação, a relação está boa e, daqui para a frente, tende a melhorar?
O União tem votado nas matérias que acha que são importantes para o Brasil. Muitas dessas matérias, quase todas elas, também foram propostas pelo governo.
Houve demanda sobre o ministério ficar com o União Brasil com porteira fechada. E a questão mais sensível envolve a Embratur e o seu presidente, Marcelo Freixo. Como está essa situação?
Conversei com Freixo, ele esteve ontem aqui comigo. Falei com ele agora no telefone. Vamos nos falar na quinta-feira de novo. É uma pessoa com quem tenho uma ótima relação, assim como quase todos os deputados na Câmara. Seria muita prepotência minha se eu entendesse que tenho prerrogativa de trocar, exonerar, demitir, contratar um presidente de uma empresa tão importante que é a Embratur. Acho que essa decisão cabe ao presidente, e vamos aguardar que o presidente Lula tome a melhor decisão para o turismo no Brasil.
Tomar a melhor decisão para o turismo significa que ele deve trocar ou manter?
Não cabe a mim dizer o que o presidente deve fazer. A Embratur é uma empresa muito importante para turismo, responsável por divulgar o Brasil para o exterior e vender os atrativos. O que o presidente decidir, está bem decidido.
Como está organizando os projetos nessa área tão importante para a geração de emprego e renda?
Temos uma grande avenida para percorrer ainda para o desenvolvimento do turismo da forma que ele pode ser desenvolvido. Temos um potencial enorme. Praias belíssimas, um clima bastante ameno e, hoje, uma das palavras mais pronunciadas no mundo: Amazônia. Temos potencial gigante para ampliar a receita desse setor, ainda hoje a contribuição do setor com a geração de riqueza no país de 7,8% do PIB (Produto Interno Bruto).
Então, a recepção de turistas no Brasil ainda fica aquém do potencial?
Somos visitados, em média, por seis milhões de turistas por ano. Em comparação com um único aparelho na França, que é a Torre Eiffel, ela é visitada por sete milhões de pessoas por ano. Então, um aparelho turístico na França recebe mais turistas que o Brasil inteiro. Isso dá uma ideia daquilo que a gente ainda pode crescer.
Ainda assim, o turismo representa uma das principais fontes de riqueza e renda no Brasil…
Sim. No Brasil, apesar de todo esse potencial que ainda temos para percorrer, o turismo é responsável pela segunda maior geração de emprego, só perde para a construção civil. Então, a gente veio ontem (segunda-feira) aqui para o ministério e começou a tomar pé. A gente já vinha estudando o tema, uma vez que começou a surgir essa possibilidade aqui para o ministério. Começamos a conversar com o corpo técnico do ministério, com ex-ministros, com gente do setor. Começamos a elaborar, há algum tempo, um plano. Nas conversas com o presidente, combinei de apresentarmos, até o fim de setembro, um plano de desenvolvimento do turismo. Esse plano tem um período de cinco anos, com metas, com programas, com ações, inclusive com atividades que precisam ser realizadas. Ele vai ter avaliação semestral e anual de metas e objetivos.
Essas metas já estão estabelecidas?
Estamos elaborando, porque é um planejamento estratégico, mas as metas são relacionadas, por exemplo, à contribuição com a geração de riqueza em valores nominais, em percentual do PIB, em número de turistas, que visitarão o Brasil, o número de emprego gerados. As metas são nesse sentido. Depois que esse programa for aprovado pelo presidente, vamos disseminá-lo por todo o país nas unidades federativas, com os prefeitos das cidades com potencial turístico. No início de agosto, vamos apresentar um novo Conselho Nacional do Turismo reformulado, com a participação de todos os atores do setor de turismo. Vão participar os funcionários das cadeias produtivas e dos hotéis, os taxistas, os executivos das companhias aéreas. A ideia realmente é envolver todos os atores, dar voz, dar vez e dar participação nas decisões das políticas estratégicas.
O Brasil é um país de dimensões continentais. Como integrar regiões tão distantes, como Rio de Janeiro e Amazonas, por exemplo?
Com relação a distância, a gente tem exemplos bem-sucedidos de outros países que souberam trabalhar isso. Há 10 anos, Portugal recebia sete milhões de turistas por ano, hoje está recebendo 21 milhões. Triplicou o número com uma série de ações que foram feitas pelo governo português, pelo trade de Portugal, envolvendo uma política transversal do setor público e do setor privado, participando assiduamente. Um exemplo é a companhia aérea TAP. Ela implementou com muita eficácia o serviço de stopover, em que a pessoa passa dois, três, quatro dias em Portugal e de lá vai para a Espanha, a Alemanha ou a Itália, o país de destino. Isso contribuiu também para um aumento do turismo por lá. Portugal mostrou para todos nós que é possível, num prazo não muito grande, 10 anos, triplicar o número de visitações.
Podemos esperar um crescimento do turismo nos próximos anos?
Vamos buscar, dentro do turismo, alcançar um grau de amadurecimento da nossa sociedade, um grau de desenvolvimento social. Especialistas indicam que para cada real investido no turismo, você tem um retorno de R$ 20 de geração de riqueza para nossa sociedade.
O Brasil vai receber a COP30 em 2025, no Pará, um estado amazônico. Existe algum plano para aproveitar a presença de tantos turistas no norte do país?
Há uma perspectiva de receber cerca de 80 mil pessoas em Belém. É visto como plenamente possível. Vamos fazer com que até 2025 o Brasil respire a COP30 e que, além de respirar o evento, experimente o legado da COP30. Vem um visitante, por exemplo, da Índia para Belém. Vamos fazer com que esse cara vá também para Fortaleza, Salvador, Rio de Janeiro, Rio Grande do Sul, conhecer o Brasil. Vamos trabalhar para que essa COP30 sirva também como oportunidade para conhecer os destinos turísticos do Brasil.
E o orçamento do ministério?
É dividido em duas etapas. Área meio e área fim. Área meio, vou ficar devendo essa informação, porque houve uma divisão entre o Ministério da Cultura e o Ministério do Turismo. E houve um arranjo colaborativo, em que o Ministério da Cultura está responsável por arcar com as principais despesas aqui das áreas do meio do ministério. Em relação à área fim, a gente está, neste ano, a cerca de R$ 39 milhões, e um pouco mais da metade já foi empenhado. Já há um pedido na junta de execução orçamentária de suplementação de mais de R$ 500 milhões para cá para o ministério.
Caso não consiga, avalia buscar verbas no Congresso por meio de PLN (Projeto de Lei do Congresso Nacional) ou emendas?
Vamos trabalhar nessa complementação e nessa reorganização orçamentária. Vamos trabalhar também no Congresso, na discussão do Orçamento do ano que vem, e vamos trabalhar ofertando aos parlamentares um rol de projetos e programas. Muitas cidades têm potencial turístico, e a gente quer ofertar a esses deputados e senadores, nas cidades que são suas bases, projetos que possam atrair emendas parlamentares e, ao mesmo tempo, ter uma eficiência no desenvolvimento da indústria do Turismo naquela região. O ex-ministro Walfrido Mares Guia fez isso muito bem, conseguiu R$ 3 bilhões. Venho conversando com ele.
Tratando sobre Brasília, temos um turismo cívico que é muito importante. Para a capital especificamente, o que vem por aí?
Falei sobre isso brevemente com o ministro Rui Costa. Comecei a preparar uma proposta para levar para o presidente. O programa deve ser incluído como uma das ações desse plano de desenvolvimento do turismo o fortalecimento da visitação em Brasília. Especialmente nos finais de semana. Você tem uma rede hoteleira ociosa nos finais de semana e tem aqui aparelhos históricos que são emblemas da nossa democracia, da nossa República. É uma cidade realmente muito bonita, construída com muito capricho e que reúne atrativos emblemáticos para o Brasil. Conversei com a vice-governadora Celina Leão para propor um aproveitamento dessa ociosidade dos hotéis, também da rede aérea. Então, o que a gente está vendo aqui é sobre fornecer subsídios para que estudantes secundaristas, universitários possam visitar Brasília nos finais de semana. Para que possa resgatar esse turismo cívico na capital, ocupando os hotéis e preenchendo os espaços nos aviões no final de semana.