Partidos da base se mobilizam para barrar Centrão
Foto: Ricardo Stuckert
Diante das tratativas para o ingresso de PP e Republicanos no governo Lula, com cargos no primeiro escalão, partidos que já fazem parte da base começaram a demonstrar incômodo com um possível remanejamento ou perda de espaço. De olho na movimentação do presidente e nas conversas da articulação política do Palácio do Planalto, PSB, MDB e o próprio PT passaram a enviar recados de sua insatisfação.
Um dos sinais mais claros veio do presidente do PSB, Carlos Siqueira, aliado importante durante a campanha eleitoral. A legenda viabilizou a chapa Lula-Geraldo Alckmin ao indicar o ex-governador de São Paulo para vice-presidente.
Temos pessoas de grandes qualidades e experiência servindo ao governo e ao Brasil. Se o presidente desejar dispensar uma delas para ceder espaço para aqueles que apoiaram Bolsonaro no primeiro e segundo turnos, quem perderá será o nosso país. Isso é decisão do presidente Lula e não quero crer que ele deseja piorar a política brasileira — disse Siqueira ao GLOBO.
Ele tratava da avaliação, feita entre aliados no Congresso, de que o vice poderia perder a pasta do Desenvolvimento, Indústria e Comércio. Também se referia à possibilidade de que o Ministério de Portos e Aeroportos deixe de ser comandado por Márcio França. O PSB ainda ocupa o Ministério da Justiça, com Flávio Dino, considerado da cota pessoal de Lula.
Desde o fim de semana, o presidente da República cumpre agenda em Bruxelas, na Bélgica. Ele ainda não bateu o martelo sobre a reforma ministerial esperada pelos parlamentares — tampouco acelerou o processo, que deve ser amadurecido em agosto.
Lula tem demonstrado publicamente insatisfação em relação a algumas das demandas apresentadas, como a troca em pastas como a Saúde, de Nísia Trindade, e Desenvolvimento Social, comandada por Wellington Dias (PT-PI). No Planalto, a saída de Alckmin também é vista como improvável pelo potencial de gerar desgaste entre Lula e o vice-presidente.
O Centrão, que reúne o presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), e outras lideranças influentes no Congresso, já fez chegar ao Planalto uma lista com as vagas que lhe interessam. O PP quer o deputado e líder da legenda, André Fufuca (MA), justamente no cargo de Dias. Também deseja o ex-ministro Gilberto Occhi de volta à presidência da Caixa, e o comando da Fundação Nacional de Saúde (Funasa).
Uma eventual ida de Occhi para a Caixa tem a oposição do senador Renan Calheiros (MDB-AL) e de Renan Filho, ministro dos Transportes. O indicado do PP é ligado a Lira, adversário político dos Calheiros, e ao presidente do partido, Ciro Nogueira (PI).
Ao GLOBO, Renan diz acreditar que o partido não enfrentará alterações nos três ministérios — além de Transportes, comanda Cidades e Planejamento. Mas demonstra inconformismo com o processo:
— O governo deveria ter composto essa maioria no início, seria mais fácil — afirmou.
Na semana passada, a ministra do Planejamento, Simone Tebet, também manifestou preocupação de outra ordem: a participação feminina no primeiro escalão.
— Se porventura tiver uma mudança ministerial, vamos torcer para que sejam colocadas mulheres. O importante é a proporcionalidade, a representação de mulheres — disse.
A declaração foi dada em meio à fritura da ministra do Esporte, Ana Moser. O Republicanos quer emplacar o deputado Sílvio Costa Filho (PE) na pasta.
Na semana passada, em um sinal de aproximação, o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, jantou com parlamentares da bancada do Republicanos. Na ocasião, agradeceu pela condução da legenda em votações de interesse do governo.
Já o União Brasil, que tem Integração Nacional, Turismo e Comunicações, mira em cargos de segundo escalão, como Correios e a Embratur.
Preocupado com a insistência do partido, o PT busca fortalecer o ex-deputado Marcelo Freixo na Embratur e o advogado Fabiano Silva, do grupo Prerrogativas, nos Correios.
Outra preocupação é com o Ministério do Desenvolvimento Social. Nesse caso, porém, Lula já afirmou publicamente que não pretende mexer na pasta, responsável pelo Bolsa Família, uma das principais bandeiras do partido. Ele não fez o mesmo, porém, com a presidente da Caixa, Rita Serrano, que vem sendo bombardeada por vários partidos, até mesmo entre petistas. Integrantes da articulação política acreditam que a troca no comando do banco é a mais fácil de ser viabilizada no momento.
Outro embate gira em torno da Funasa. O governo planeja ouvir PP, União Brasil e PSD para definir a presidência e as diretorias do órgão. A fundação havia sido extinta pelo Executivo, mas foi recriada pelo Congresso, que deixou a medida provisória perder a validade. Essas siglas querem turbinar a Funasa e que ela fique vinculada à Saúde. Já o MDB e alas do governo querem dar protagonismo ao ministro das Cidades, Jader Filho, e deixar a autarquia sob seu guarda-chuva — possivelmente com uma estrutura mais enxuta.
Em uma conversa por telefone há duas semanas, Lula assegurou a Lira, de forma genérica e sem citar cargos, que a Câmara estará mais representada no governo. No entanto, os pedidos são considerados altos demais para uma parcela do governo. Dentro do próprio PP, há uma avaliação de que a legenda não terá tudo.
O desconforto dos aliados
PSB: O partido de Geraldo Alckmin está incomodado com a pressão na base para remanejar o vice do Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio, além de Márcio França da pasta de Portos e Aeroportos. O PSB ocupa ainda o Ministério da Justiça, com Flávio Dino, considerado da cota pessoal de Lula.
MDB: Lideranças do MDB também estão incomodadas com o apetite do Centrão. O senador Renan Calheiros (MDB-AL) se opõe à indicação, para o comando da Caixa, do ex-ministro Gilberto Occhi, ligado ao presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), seu adversário em Alagoas, e ao presidente do PP, senador Ciro Nogueira (PI). Já a ministra do Planejamento, Simone Tebet (MDB), manifestou preocupação com a possível redução do número de mulheres no primeiro escalão. A declaração foi dada em meio à fritura da ministra do Esporte, Ana Moser. A pasta é cobiçada pelo Republicanos.
PT: Na sigla do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, uma das maiores preocupações é preservar o comando do Ministério do Desenvolvimento Social, responsável pelo Bolsa Família. Mas o titular do Planalto já deu recados públicos de que não vai mexer nessa pasta, nem na Saúde.