Justiça para processo contra comparsa de miliciano morto
Foto: Gabriel Paiva
O Tribunal de Justiça do Rio paralisou o processo que pode culminar com a expulsão da PM do major Ronald Paulo Alves Pereira, acusado de chefiar a milícia de Rio das Pedras, na Zona Oeste do Rio. A decisão é da desembargadora Gizelda Leitão Teixeira, da 4ª Câmara Criminal e foi tomada no último dia 14. Ronald é apontado como comparsa do ex-capitão Adriano da Nóbrega, morto na Bahia no último domingo.
O Conselho de Justificação — processo administrativo da PM para punir oficiais acusados de crime — de Pereira foi aberto pela corporação há um ano, logo após o oficial ser alvo da denúncia do Ministério Público que culminou na operação Intocáveis em 22 de janeiro do ano passado. Na ocasião, viraram réus Pereira, Nóbrega e outros 11 acusados. O ex-capitão era o único ainda foragido.
A desembargadora determinou que o processo deve ser paralisado até sair a sentença do caso em primeira instância. “A jurisprudência dominante no Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro é no sentido de sobrestar-se o Conselho de Justificação, no aguardo do desfecho da ação penal, entendimento que acompanhamos, sendo recomendável aguardar-se ao menos o julgamento em 1º grau de jurisdição, para fins de prosseguir-se com a marcha do referido processo administrativo disciplinar que é o Conselho de Justificação”, escreveu a magistrada.
Na decisão, Gizelda Leitão também estende o benefício ao tenente Maurício Silva da Costa, o Maurição, também citado na denúncia como um dos chefes da milícia. Maurição e Ronald, portanto, vão seguir nas fileiras da PM, recebendo salários do estado, mesmo estando presos na penitenciária federal de Mossoró, no Rio Grande do Norte.
Os arquivos encontrados pelo MP no celular de Ronald, apelidado de Tartaruga por seus comparsas, no dia em que ele foi preso revelam detalhes da atuação do major em transações de compra e venda de imóveis construídos ilegalmente em Rio das Pedras e na favela vizinha, a Muzema. Ronald Paulo guardava, no aparelho, imagens de empreendimentos em construção, contratos de locação e compra e venda de imóveis, plantas e croquis de prédios e fotos da área interna de apartamentos, o que mostra, segundo a denúncia do MP, “sua participação ativa no ramo imobiliário”.
No celular de Ronald Paulo, os promotores também encontraram provas de sua estreita relação com o ex-capitão Adriano, apontado como fundador do Escritório do Crime, uma quadrilha de matadores de aluguel que está por trás de diversos homicídios no Rio. Em uma planilha contábil armazenada no aparelho, Gordinho aparece como um dos beneficiários da divisão de valores da quadrilha. Segundo os promotores, somente amigos íntimos chamam Adriano dessa maneira. Na PM, os seus apelidos eram Urso Polar e Maromba, por conta do porte físico. Após ser expulso da corporação, Adriano perdeu músculos e engordou.
Ronald foi preso em casa, no condomínio Essence, perto do Parque Olímpico, em Curicica, em janeiro do ano passado. Segundo moradores, os apartamentos mais caros no local valem mais de R$ 1 milhão. Já Adriano foi morto por policiais do Batalhão de Operações Especiais (Bope) da Bahia num sítio no município de Esplanada no último domingo.
O major foi reprovado no exame psicotécnico para ingresso na Polícia Militar, em 1995. De acordo com o parecer da psicóloga que o avaliou na ocasião, o oficial “demonstrou irritabilidade, onipotência, parecendo não priorizar a Escola de Formação de Oficiais”. O oficial entrou na Justiça contra a decisão e, em outubro de 1998, conseguiu ser empossado aspirante a oficial, argumentando que se formou no curso com média 7,56.
Em março, Ronald vai à júri pelo homicídio de quatro jovens na antiga boate Via Show, na Baixada Fluminense, em 6 de dezembro de 2003. Na ocasião, Renan Medina Paulino, de 13 anos, Rafael Medina Paulino, de 18, Bruno Muniz Paulino, de 20, e Geraldo Sant’Anna, de 21, teriam se envolvido numa confusão na casa noturna e acabaram sendo sequestrados por PMs que faziam a segurança do local.