Ministros (e Bolsonaro?) apoiam Heleno contra Congresso

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Foto: Sérgio Lima/Poder360

O ministro do Gabinete de Segurança Institucional (GSI), general Augusto Heleno Ribeiro, não está sozinho em suas críticas ao Congresso. A acusação de que os parlamentares fazem “chantagem” com o governo ganhou respaldo de outros ministros. Ao pedir ao presidente Jair Bolsonaro para convocar “o povo às ruas” contra o acordo do Orçamento impositivo, Heleno também insuflou a ala ideológica do Planalto e movimentos bolsonaristas, que voltaram a subir o tom nas redes sociais contra o Legislativo.

O Estado apurou que na reunião da última terça-feira, no Palácio da Alvorada, quando Heleno expôs seu descontentamento, os ministros Damares Alves (Mulher, Família e Direitos Humanos) e Abraham Weintraub (Educação) endossaram a posição do general. Participantes do encontro relataram que o acerto fechado pelo ministro Luiz Eduardo Ramos, da Secretaria de Governo, com os presidentes da Câmara dos Deputados, Rodrigo Maia (DEM-RJ), e do Senado, Davi Alcolumbre (DEM-AP), foi criticado abertamente durante a reunião.

Nas redes sociais, pouco depois da divulgação das declarações de Augusto Heleno, grupos bolsonaristas começaram a convocar uma manifestação contra o Congresso para o dia 15 de março. As hashtags #SomosTodosHeleno e #SomosTodosBolsonaro apareceram entre os assuntos mais comentados no Twitter desde a eclosão da nova crise envolvendo o Executivo e o Legislativo, anteontem.

Os filhos do presidente ajudaram a engrossar o coro contra o Congresso. O deputado Eduardo Bolsonaro (PSL-SP) reforçou a hashtag #SomosTodosBolsonaro, enquanto o vereador Carlos Bolsonaro (PSC-RJ) disse que, em governos anteriores, Executivo e Legislativo tinham “relações promíscuas”.

“Ninguém viu a democracia ameaçada quando os poderes Executivo e Legislativo mantinham uma relação promíscua durante todos os anos anteriores ao governo Jair Bolsonaro, que resultaram no mais catastrófico escândalo de corrupção de nossa história”, escreveu Carlos.

A publicação do filho 02 de Bolsonaro foi uma reação às manifestações dos presidentes das duas Casas sobre as críticas de Heleno. Maia disse que o ministro do GSI, um dos principais auxiliares de Bolsonaro, virou “um radical ideológico”. Alcolumbre afirmou em nota que “nenhum ataque à democracia será tolerado pelo Parlamento.”

‘Democracia’. Apesar de irritado com o acordo com o Congresso sobre o Orçamento, Bolsonaro pediu calma aos envolvidos na crise. Em meio aos atritos entre Executivo e Legislativo, o presidente postou nas redes sociais que “a democracia nunca esteve tão forte”.

Na semana passada, o time de auxiliares considerado mais radical – e ligado ao guru bolsonarista Olavo de Carvalho – se sentiu enfraquecido após Bolsonaro “militarizar” o Palácio do Planalto com a indicação do general Walter Braga Netto para ministro-chefe da Casa Civil. No mesmo dia em que o Diário Oficial da União (DOU) trouxe a nomeação, também foi confirmada a chegada do almirante Flávio Augusto Viana Rocha para o comando da Secretaria de Assuntos Estratégicos (SAE), ligada ao gabinete presidencial.

A crise desencadeada pelas declarações de Heleno foi vista como a oportunidade para o grupo olavista recuperar espaço no governo e voltar a influenciar as decisões de Bolsonaro, visto que o episódio expôs um cisma, ainda que pequeno, entre dois militares. A fala do chefe do GSI foi uma crítica não apenas ao Congresso, mas também à articulação do ministro Luiz Eduardo Ramos. Para alguns integrantes do governo, o general Ramos “meteu os pés pelas mãos” ao adotar um estilo de articulação que cede às reivindicações das lideranças da Câmara e do Senado.

A ala olavista, que sempre pregou ruptura com os demais Poderes, avaliou que, como partidos e parlamentares estão em campanha, a pressão popular pode definir o jogo no Congresso, sem passar pelas negociações com os chefes das duas Casas Legislativas.

Para auxiliares ligados à pauta ideológica, Bolsonaro, em nome do bom relacionamento com Maia e Alcolumbre, se afastou de sua base mais inflamada e disposta a ir às ruas para pressionar parlamentares e o Judiciário. Até o início do segundo semestre de 2019, manifestações pró-governo ocorreram em diversos pontos do País, mas, sem incentivo explícito do presidente, o ímpeto dos manifestantes, disseram, arrefeceu.

Estadão