PMs censuram musicas de Chico Science no carnaval de Recife
Foto: Reprodução
Duas bandas contratadas para shows no carnaval de Recife acusaram a Polícia Militar de intimidação por terem tocado uma mesma música de Chico Science & Nação Zumbi. “Banditismo por uma questão de classe”, do álbum “Da lama ao caos”, de 1994, traz o verso “a polícia mata gente inocente”. Uma das bandas foi a Devotos, histórico nome do punk rock da cidade, que se apresentou no polo Várzea na terça-feira. A outra, Janete Saiu Para Beber, tocou na Rua do Apolo, na segunda.
— Nos nossos shows, a gente toca uma música do primeiro disco do Devotos, “Luz da salvação”, e nela faz uma intervenção com “Banditismo”. É algo que a gente faz desde 2002, talvez até antes, e nunca tivemos problemas com isso. — disse Canibal, dos Devotos, em entrevista ao GLOBO. — Tivemos até outros tipos de problemas, de a polícia interferir na roda punk, mas nunca por causa de letras. Nesse show do carnaval, quando fui começar a música seguinte, o roadie chegou no meu ouvido e disse que a polícia falou que se a gente cantasse outra falando mal da polícia eles iam acabar o show. Depois eu fiquei sabendo que isso aconteceu em outro lugar e vi que era uma coisa orquestrada.
Em nota, a PM de Pernambuco afirma que nenhuma denúncia foi apresentada à Corregedoria e diz que “não adotou qualquer iniciativa no sentido de censurar ou reprimir a expressão artística, especialmente em um Carnaval plural e democrático como o de Pernambuco”. A corporação afirma ainda que “Músicas que fazem crítica à atuação policial fazem parte da nossa riqueza cultural. Assim como também há uma infinidade de manifestações artísticas que enaltecem a atividade de homens e mulheres dedicados à segurança pública.”
O outro caso foi relatado pela banda Janete Saiu Para Beber nas redes sociais: “Na segunda de carnaval, dia 24, tocamos o tributo ao Chico Science e Sheik Tosado na Rua do Apolo, no Recife Antigo. Durante o show, enquanto tocávamos ‘Banditismo por uma questão de classe’, a Polícia Militar fez uma barreira entre o público e a banda. Tivemos que parar o show com ameaça de levar nosso vocalista preso! A produção foi incrível e conseguiu reverter a situação, mas o mais absurdo foram os argumentos: Chico Science não pode tocar, não pode!”
Vocalista do extinto Sheik Tosado, China também teve problemas com a PM em seu show, por causa de um atraso na entrada das atrações anteriores em show no polo Lagoa do Araçá, na terça. No Instagram, ele disse que a PM subiu ao palco para tentar encerrar o seu show, que estourara o horário. “Não sabia que era a polícia que cuidava do crono dos shows do carnaval”, escreveu o cantor.
Em relação a esse caso, a PM afirma que “assim como em todos os anos (para o Carnaval, São João e outras festividades do calendário cultural), existe um planejamento prévio de duração das apresentações, feito em parceria entre as operativas de segurança pública, prefeituras e produtores. Esses horários podem ser ajustados ou estendidos, em comum acordo, a depender da necessidade e peculiaridade de cada evento. Essa programação visa a garantia da segurança, tranquilidade, prestação de serviços públicos e também o respeito ao sossego da população moradora de áreas circunvizinhas aos palcos e locais de shows.”
Veja abaixo a letra de “Banditismo por uma questão de classe”
“Há um tempo atrás se falava em bandidos
Há um tempo atrás se falava em solução
Há um tempo atrás se falava em progresso
Há um tempo atrás que eu via televisão
Galeguinho do Coque não tinha medo, não tinha
Não tinha medo da perna cabeluda
Biu do olho verde é que fazia sexo, fazia
Fazia sexo com seu alicate
Galeguinho do Coque não tinha medo, não tinha
Não tinha medo da perna cabeluda
Biu do olho verde é que fazia sexo, fazia
Fazia sexo com seu alicate
Oi sobe morro, ladeira córrego, beco, favela
A polícia atrás deles e eles no rabo dela
Acontece hoje e acontecia no sertão
Quando um bando de macaco perseguia Lampião
E o que ele falava muitos hoje ainda falam
“Eu carrego comigo coragem, dinheiro e bala!”
Em cada morro uma história diferente
Que a polícia mata gente inocente
E quem era inocente hoje já virou bandido
Pra poder comer um pedaço de pão todo fodido
Galeguinho do Coque não tinha medo, não tinha
Não tinha medo da perna cabeluda
Biu do olho verde é que fazia sexo, fazia
Fazia sexo com seu alicate
Galeguinho do Coque não tinha medo, não tinha
Não tinha medo da perna cabeluda
Biu do olho verde é que fazia sexo, fazia
Fazia sexo com seu alicate
Sobe morro, ladeira córrego, beco, favela
A polícia atrás deles e eles no rabo dela
Acontece hoje e acontecia no sertão
Quando um bando de macaco perseguia Lampião
E o que ele falava muitos hoje ainda falam
“Eu carrego comigo coragem, dinheiro e bala!”
Em cada morro uma história diferente
Que a polícia mata gente inocente
E quem era inocente hoje já virou bandido
Pra poder comer um pedaço de pão todo fodido
Banditismo por pura maldade
Banditismo por necessidade
Banditismo por pura maldade
Banditismo por necessidade
Banditismo por uma questão de classe
Banditismo por uma questão de classe
Banditismo por uma questão de classe
Banditismo por uma questão de classe”