Protesto do dia 15 pode disseminar coronavírus
Foto: Kin Cheung/AP
Líderes dos atos de apoio ao presidente Jair Bolsonaro mantiveram as manifestações marcadas para domingo. A decisão foi tomada mesmo com a decretação ontem de uma pandemia de covid-19 pela Organização Mundial da Saúde (OMS). No Brasil, há 52 casos confirmados de infecção pelo vírus, segundo o Ministério da Saúde. O argumento dos organizadores é de que não há uma orientação dos órgãos oficiais brasileiros para suspender eventos públicos, como shows e jogos de futebol, então, por associação, não há razão para cancelar as manifestações.
Os atos foram confirmados pelos movimentos Avança Brasil, NasRuas, São Paulo Conservador e Direita Minas.
A deputada federal Carla Zambelli (PSL-SP), uma das fundadoras do NasRuas, reforçou ontem em nota à imprensa a convocação para a mobilização. Ela pediu, no entanto, que quem esteja com sintomas de gripe não vá à manifestação e que as pessoas evitem, durante a atividade, “efusivos cumprimentos”, mantenham uma “certa distância” entre si e levem consigo álcool gel.
A manifestação está programada para acontecer em 190 cidades em todos os Estados e no Distrito Federal, informam os organizadores. Na capital paulista, o local de concentração é a Avenida Paulista.
Tomé Abduch, porta-voz do Nas Ruas, prevê que 500 mil pessoas irão ao local. Há, na cidade, 29 pessoas infectadas pelo covid-19, segundo o governo paulista.
Questionado se faz alguma recomendação aos participantes do protesto, Ted Martins, líder do São Paulo Conservador, disse confiar na consciência de cada um. “Nós, conservadores, não somos coletivistas. Nós acreditamos que os indivíduos já têm as informações suficientes sobre esse assunto”, afirmou Martins.
O presidente do Avança Brasil, Eduardo Platon, disse estar “monitorando de perto” o posicionamento do governo sobre a pandemia do novo coronavírus, mas que, por enquanto, a programação para domingo segue a mesma.
Tomé Abduch informou que, para reconsiderar a data da manifestação, seria necessário uma orientação do governo federal. “Vamos acatar não fazer a manifestação caso haja um comunicado na esfera federal pedindo para que não haja. E, junto com isso, [que não haja] jogo de futebol, entrada em museu, festivais de música. Queremos entender se isso é uma preocupação federal. Se isso for, iremos acatar”, disse o porta-voz do NasRuas.
No Distrito Federal, o governador Ibaneis Rocha (MDB) decretou ontem suspensão de cinco dias de aulas na rede pública e privada de ensino e de eventos que exijam licença do governo distrital. O Distrito Federal tem dois casos confirmados de infecção pelo novo coronavírus.
Os atos de apoiadores de Bolsonaro têm como alvos o presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), e o presidente do Senado, Davi Alcolumbre (DEM-AP). As lideranças procuram se afastar pautas autoritárias que circulam nas redes sociais.
“Não queremos mais esses senhores [Maia e Alcolumbre] exercendo as funções de presidentes nas respectivas Casas do Parlamento porque eles não representam o interesse do povo brasileiro”, disse Eduardo Platon. O presidente do Avança Brasil classificou a atuação do Supremo Tribunal Federal (STF) como “lamentável”.
Ainda assim, Platon nega uma tentativa de “pressionar as instituições através de uma intervenção no Congresso ou no STF”.
Possível candidato a prefeito de Belo Horizonte, o deputado estadual Bruno Engler (PSL) está à frente do Direita Minas, que também atua na mobilização para domingo. Engler acusou os parlamentares do Centrão de atuarem por meio de “barganha política”. “Isso é muito baixo”, afirmou o deputado.
“A bandeira dessa manifestação é de apoio ao presidente. E as críticas são a alguns parlamentares – não à totalidade do Congresso – que fazem o possível e o impossível para atrapalhar esse governo”, disse Bruno Engler.