Câmara suspende privataria da Eletrobrás
Foto: Michel Jesus/Camara dos Deputados
O presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), em reunião com líderes partidários, demonstrou irritação com a equipe econômica do governo e chegou a gritar com o líder do presidente Jair Bolsonaro na Casa, Major Vitor Hugo (PSL-GO). Cobrou medidas concretas e afastou a possibilidade de a proposta de privatização da Eletrobras avançar.
Maia conseguiu emplacar o projeto que permitirá votações remotas a partir da próxima semana e outras três propostas relacionadas à área de saúde: liberação do remanejamento de R$ 6 bilhões de fundos de saúde para o combate à doença, a proibição da exportação de itens considerados essenciais para enfrentar o vírus e a derrubada de uma portaria da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) que restringia a comercialização de álcool 70%. O produto é uma alternativa ao álcool gel, item utilizado para a higienização e que está em falta no mercado.
Antes das votações, Maia se encontrou com líderes partidários e protagonizou dois enfrentamentos. Um com Vitor Hugo e outro com o deputado Osmar Terra (MDB-RS), ex-ministro da Cidadania. Ambos são aliados de Bolsonaro no Congresso.
Segundo o apurou o Valor, o líder do governo na Câmara foi o primeiro alvo da ira de Maia. Vitor Hugo passou aos participantes da reunião um recado do ministro da Economia, Paulo Guedes, sugerindo que o projeto que trata da privatização da Eletrobras fosse incluído entre as ações de combate ao vírus. O presidente da Câmara reagiu energicamente, chamando de irresponsabilidade fazer “chantagem com a privatização da Eletrobras”.
Pouco depois foi a vez de Terra ser criticado por causa de seu alinhamento com Bolsonaro na defesa de que as precauções ao avanço do vírus são “exageradas” e de que a quarentena é “desnecessária”. “Espero que todos os líderes dos demais países no mundo estejam errados e que o governo Bolsonaro seja o único certo”, disse Maia.
Em outro momento de atrito com Vitor Hugo, Maia foi chamado de “ditador” pelo líder do governo na Câmara. Segundo líderes, o presidente da Câmara não titubeou e respondeu: “É o seu chefe”.
Após a reunião, o presidente da Câmara adotou um tom mais pacificador. Defendeu que o governo já deveria ter estabelecido o fechamento de fronteiras e a restrição de voos internacionais. “Acho que o governo já deveria ter fechado as fronteiras, acho que já deveria ter restringido os voos internacionais, já deveria ter restringido a circulação das pessoas, principalmente nos Estados onde a projeção é de problemas maiores, como os Estados do Rio de São Paulo. Mas estas posições são comandadas pelo Poder Executivo”, afirmou em entrevista coletiva.
Em reuniões reservadas, parlamentares classificaram o pacote de medidas de Guedes como “modesto” e disseram que ações adicionais precisarão ser implementadas.
Maia disse ainda acreditar que o governo vai propor a ampliação dos gastos públicos e a alteração da meta fiscal, como forma de garantir recursos para o combate ao coronavírus e evitar a paralisação da economia durante a crise.
“O governo já deveria ter pensado em políticas públicas, como a ampliação do gasto público, como todos os países vêm fazendo. Acho que é inevitável que a redução do dano na economia seja garantida pelo Estado brasileiro. Não há saída, não há outra saída, principalmente porque a arrecadação federal vai cair, dos Estados vai cair, dos municípios deve cair”, disse Maia. “O governo federal precisa tomar essas decisões, que eu espero que ocorram nos próximos dias ou nas próximas semanas. Terão no Parlamento total apoio para que essas matérias possam ser aprovadas de forma urgente. Mudança de meta entre outros temas que são fundamentais para que a gente garanta a manutenção da execução do Orçamento”, completou.