Outro governante de extrema-direita cede ao isolamento

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Foto: Bernadett Szabo / REUTERS

A Hungria decretou, nesta sexta-feira, uma quarentena de duas semanas para conter a propagação do novo coronavírus. A medida foi imposta pelo primeiro-ministro húngaro, Viktor Orbán, que afirmou que o pico da doença no país deve acontecer entre junho e julho.

Os cidadãos terão permissão para ir trabalhar, ir ao mercado e fazer exercicío físcio por tempo limitado durante a quarentena, que começa a valer no próximo sábado. No entanto, será preciso manter uma distância segura entre as pessoas, conforme explicou Orbán na rede pública de rádio da Hungria, acrescentando que as restrições serão monitoradas pela polícia. Com a medida, o premier ultranacionalista vai em direção oposta à de seu aliado, o presidente do Brasil, Jair Bolsonaro, que tem se oposto a medidas de isolamento social adotadas pelos governadores.

Orbán disse ainda que o governo húngaro — que junto com o Banco Central do país já tomou medidas para sustentar a economia durante a pandemia — vai apresentar um plano econômico de ação pós-surto na primeira ou segunda semana de abril. O premier, porém, não deu detalhes do plano.

A Hungria, que fechou suas fronteiras em 16 de março, já registrou dez mortes pela Covid-19 e 300 casos confirmados da doença. No entanto, Orbán afirma que o número pode ser muito maior.

— As restrições implementadas até o momento têm sido eficientes. Os húngaros reduziram a magnitude do contato social, mas a redução dos casos parou, então tivemos que impor o isolamento — afirmou o primeiro-ministro.

No decreto publicado nesta sexta-feira, os cidadãos também terão autorização para ajudar os mais vulneráveis ao vírus. Já pessoas acima de 65 anos só poderão fazer compras entre as 9h e meio-dia, e restaurantes só vão abrir para fazer entregas em domicílio.

O governo de Orbán havia pressionado o Parlamento por uma extensão ilimitada de um estado de emergência que fortaleceria o premier em relação ao Legislativo, dando-lhe poderes para governar sem supervisão dos congressistas. A proposta foi rejeitada em primeira votação, mas Orbán insistirá na aprovação parlamentar na próxima semana.

O parlamentar alemão Norbert Roettgen, um aliado conservador da chanceler Angela Merkel, que preside a Comissão Parlamentar de Relações Exteriores, pediu às autoridades da União Europeia que intervenham contra a proposta.

— A Comissão [Europeia] deve agir imediatamente — disse Roettgen à revista Der Spiegel.

Defensor do que chama de “democracia iliberal”, Orbán aumentou progressivamente seu poder durante sua década na chefia do governo, intervindo no Judiciário, nos organismos culturais e promovendo meios de comunicação de empresários aliados. Críticos dizem que ele está levando o país a se tornar uma autocracia, uma acusação que ele rejeita.

O Globo