Datafolha: popularidade de Bolsonaro só resiste entre pobres

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Foto: Rafaela Felicciano / Metrópoles

As variações observadas na última pesquisa Datafolha sobre o combate à epidemia do novo coronavírus no Brasil refletem maior grau de informação sobre o tema junto a estratos de maior peso quantitativo na composição da população e a retenção de mensagens, por vezes conflitantes, transmitidas tanto por veículos de comunicação quanto pelo governo.

A percepção de maior conhecimento sobre o assunto, na pesquisa anterior, era declarada especialmente pelos mais ricos e escolarizados, segmentos com facilidade de acesso à informação e onde se concentravam os primeiros casos da doença divulgados no país.

Agora, o tema se dissemina —a taxa dos que se julgam bem informados entre os que têm o nível médio de escolaridade (46% da amostra) cresceu seis pontos percentuais nas duas últimas semanas. Entre os que estudaram até o fundamental (32% do total), esse aumento foi de cinco pontos e entre os de menor renda (metade dos brasileiros ganha até dois salários mínimos) a variação foi de quatro pontos.

Pode-se concluir que esse maior conhecimento intensifica tendências observadas no levantamento anterior —aprofundamento na diferença entre as imagens do presidente Jair Bolsonaro (sem partido) e de seu ministro da Saúde, Luiz Henrique Mandetta, assim como apoio majoritário às medidas de isolamento social sugeridas pelos técnicos da área e adotadas pelos governadores do país.

O aumento expressivo na aprovação ao desempenho de Mandetta é geral, mostra-se homogênea e alcança todos os segmentos sociais, mas só atinge percentual tão elevado porque também ocorre de maneira significativa nesses grandes estratos.

Mas, no caso de Bolsonaro, o presidente deve a esses segmentos não só a crescente reprovação ao seu comportamento no combate à epidemia como também, por outro lado, a estabilidade de sua avaliação positiva.

À medida que aumenta o grau de informação declarado por esses estratos sobre o tema, cresce a avaliação negativa de Bolsonaro na gestão da crise. No entanto, esses segmentos continuam sendo também os que garantem, por enquanto, sua aprovação em patamares superiores a 30%.

Entre os que têm renda familiar de até dois salários mínimos, por exemplo, a taxa dos que se julgam bem informados sobre o assunto, assim como a reprovação ao presidente, cresceram significativamente em duas semanas. Mesmo assim, o apoio que mantém nesse estrato permanece inalterado.

Entre os menos escolarizados, acontece o mesmo —o aumento no grau de informação foi acompanhado por crescimento expressivo na avaliação negativa de Bolsonaro, mas sua aprovação é maior em seis pontos quando comparada à dos mais escolarizados. Entre os que cursaram até o nível médio, grupo mais numeroso e agora o mais fiel ao presidente, a tendência se repete.

São esses segmentos que acabam por determinar a polarização da opinião pública quanto ao seu desempenho no combate à epidemia. São setores da população com maior vulnerabilidade econômica, com taxas acima da média de informalidade no mercado de trabalho ou registrados com baixos salários, com maior temor do desemprego.

Há participação importante de evangélicos e, no conjunto, não se enxergam tão expostos à contaminação pelo vírus como os outros estratos.

As características transformam esses grupos em terreno fértil para o discurso presidencial, que relativiza a gravidade da doença e enfatiza a crise econômica provocada pelas medidas preventivas. Segundo os resultados, informam-se principalmente pela TV, e com referência no histórico do perfil de audiência da TV aberta no país, há maior probabilidade de que o façam por meio de canais onde Bolsonaro tem priorizado sua estratégia de comunicação.

A resposta do governo ao impacto que a epidemia terá nesses conjuntos será determinante para o futuro político do presidente.

Outro estrato onde o grau de informação e a avaliação negativa também aumentaram e que ainda responde pelo maior apoio à gestão do presidente na crise é o segmento masculino.

Com alta exposição nas diferentes esferas (saúde e economia) por conta da participação na população economicamente ativa, os homens passaram a reprovar mais o presidente, mas continuam sendo determinantes para a divisão da opinião pública. Entre eles, 38% aprovam as ações de Bolsonaro, contra 43% das mulheres que as condenam.

Já os jovens, um dos grupos que na pesquisa anterior se mostrava menos preocupado com a epidemia, apesar de se apresentarem como os que menos se julgam bem informados sobre o tema, demonstram pelas opiniões grande alinhamento com as medidas implantadas pelas autoridades sanitárias e talvez por isso um dos estratos mais críticos ao desempenho do presidente da República na crise.

Folha