Saída de Moro preocupa empresários
Foto: Marcello Casal Jr/Agência Brasil
A saída de Sergio Moro do governo nesta sexta (24) foi recebida com decepção e preocupação no empresariado. O imediato impacto no câmbio alertou setores dependentes de importação. O futuro da crise política, além das negociações de Bolsonaro com o centrão, acenderam o sinal vermelho para a atração de investimentos. Até entre empresários que costumam defender atitudes polêmicas do presidente a conclusão é que um dos pilares mais fortes do governo caiu.
“É triste ver a trajetória iluminada de um juiz e personagem tão importante para a nação apagada pela burocracia e ineficiência pública”, diz Christopher Vlavianos, presidente da gigante do mercado de energia Comerc.
“Fica cada vez mais evidente que o sonho de ter um plano de país como o que queremos ser, com metas claras, investimentos, ambiente de negócios competitivo, segurança, ética e justiça no amplo sentido da palavra não passa de um sonho”, afirma Laércio Cosentino, presidente do conselho da Totvs.
Para Gabriel Kanner, presidente do Brasil 200, grupo de empresários que vinha apoiando as ações de Bolsonaro desde 2019, o episódio foi uma “decepção absoluta”, e todos que acreditaram no discurso anticorrupção se sentiram traídos.
Um dos maiores defensores do presidente no empresariado, Winston Ling, afirma que a saída Moro já respingou na economia. Ling, que ficou conhecido como o empresário que apresentou Paulo Guedes a Bolsonaro, diz que não entende de política. “Só sei que o Brasil sai perdendo”, afirma.
“A credibilidade do Brasil está muito baixa e isso afugenta os investidores externos, que irão se retrair ainda mais, prejudicando o programa de privatizações” (Winston Ling-investidor)
O empresário José Seripieri Junior (QSaúde) diz que a saída de Moro coloca o Brasil em mares revoltos. “Apertemos os cintos de segurança, além da dramática crise da Covid-19”, afirma ele.
Horácio Lafer Piva (Klabin) diz que a tensão cresceu e a percepção externa piora. O empresário lamentou a demissão do ex-ministro que, segundo ele, tem dado demonstrações recorrentes de compromisso com a lei.
“Estamos diante de afirmações contraditórias e logo saberemos quem tem mais razão, mas acredito que ele não tinha mais clima para ficar”, disse Piva após o discurso de Bolsonaro nesta sexta sobre a saída de Moro.
“Já não chega a instabilidade da pandemia. O enfrentamento dela é um improviso porque não tem nada no passado que possa balizar a tomada de decisões, e ele pega e joga mais gasolina na fogueira“, afirma José Roriz, vice-presidente da Fiesp e presidente da Abiplast (associação da indústria de plásticos).
Para Roriz, a aproximação de Bolsonaro com o centrão também turva a cena. “Enquanto o mundo todo foca na solução da pandemia, o governo está com foco em politicagem que a gente já conhece do passado que não traz segurança para nenhum investidor”, diz ele.
“Enquanto o momento pede serenidade, o presidente insiste em elevar a temperatura, inclusive em cima de seus próprios aliados. Se o caminho da recuperação tem de vir do investimento, é preciso respeitar regras e instituições e dar segurança a empresários e investidores”, afirma Ricardo Lacerda (BR Partners).
Apesar de tantas manifestações de aborrecimento no setor privado sobre a saída de Moro, o tema ainda é tabu. Procurado pela coluna para comentar o fato, um dos maiores empresários do Brasil disse que, por ora, prefere ficar “atrás do toco”. Um outro grande alegou que estava na reunião do conselho da empresa, do qual é presidente.