PF promete denunciar Ramagem se tentar interferir

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Foto: Marcos Oliveira / Agência Senado

O último diretor-geral da Polícia Federal indicado com uma missão explicitamente política, Fernando Segovia, durou 99 dias no cargo e se notabilizou ao afirmar que “uma única mala (de dinheiro)” não era suficiente para imputar crimes ao então presidente Michel Temer (MDB), responsável pela sua nomeação em 2017. Após as acusações de que o presidente Jair Bolsonaro queria interferir na PF, ter acesso a relatórios e frear investigações contra aliados, o delegado Alexandre Ramagem assume o comando da corporação em clima semelhante de desconfiança ao do período Segovia.

Ramagem chega à direção-geral da PF pisando em ovos. Qualquer movimento que possa ser interpretado como motivado por interesses escusos, ainda que não o seja, pode gerar escândalos e resistência interna, avaliam delegados. Até mesmo a natural troca nas equipes de diretorias e superintendências será feita com cautela, para evitar indisposições.

Apesar de ser uma corporação submetida a hierarquia, os investigadores não reagem bem a interferências políticas. Os delegados não costumam compartilhar informações sensíveis de suas investigações com os superiores hierárquicos, a não ser que tenham uma relação de extrema confiança. Isso significa que Ramagem só vai saber o que acontece na PF caso ganhe a confiança da corporação.

Se quiser, porém, o diretor-geral tem margem para dificultar e atrapalhar a deflagração de operações e o andamento de inquéritos. Basta, por exemplo, negar a concessão de diárias de viagens e de recursos estruturais necessários.

Ramagem já terá o desafio de zelar pelas diligências do inquérito aberto ontem pelo ministro Celso de Mello, do Supremo Tribunal Federal, para apurar possíveis crimes na conduta de Bolsonaro em relação à PF. O novo diretor-geral pode definir a equipe que atuará no caso e cabe a ele blindá-la de pressão política e dar tranquilidade para realizar um trabalho técnico, por mais acirrado que esteja o ambiente político.

O Globo