Bolsonaristas temem mais impeachment do que a morte
Foto: Dida Sampaio/Estadão
Não importa o risco de contaminação pela covid-19, nem que o Brasil seja hoje o terceiro País com maior número de pessoas contaminadas por dia pela doença e que várias cidades estejam decretando fechamento total, o lockdown, para proteger a população. Na lógica de um dos principais líderes ligados ao ato antidemocrático que foi às ruas de Brasília no domingo, 3, o militar reformado Winston Lima, o importante agora é evitar a queda do presidente Jair Bolsonaro.
Isso é o que defende Lima, que se autodenomina um “conservador de costumes de direita” e um “liberal na economia como os Estados Unidos”. Ao Estado, o militar reformado, que costuma transmitir diariamente as falas do presidente em frente ao Palácio da Alvorada em seu canal no YouTube, disse que uma nova mobilização já está marcada para o próximo sábado, 9.
“O medo das pessoas que foram na manifestação não é com o vírus, é com esses governadores que podem pegar gostinho pela tirania, de poderem fazer o que eles quiserem e o povo perder a liberdade. Tudo isso está levando a população a ficar muito revoltada”, diz o líder, que trabalhou na organização da manifestação com outras lideranças, como Renan Senna, o ex-funcionário do Ministério dos Direitos Humanos de Damares Alves, aquele mesmo que agrediu uma enfermeira em um ato pacífico de defesa pelo isolamento social e colocou faixas com xingamento na frente da Embaixada da China.
A reportagem questionou a Lima se ele próprio não tem medo de contrair a covid-19 e se não encara a mobilização como um gesto de irresponsabilidade, ao incitar a população a se aglomerar neste momento, contrariando tudo o que recomenda o próprio Ministério da Saúde.
“Eu tenho medo, é uma doença séria. Mas olha só, se essas interferências nos Poderes continuar, isso vai gerar uma interferência política muito grande e a gente não sabe para onde o País vai caminhar”, justificou Lima. “Estão usando a autoridade de maneira equivocada e trazendo uma situação que pode fugir do controle. Tem muita gente revoltada, desesperada, achando que o presidente vai cair, estão revoltadas com a situação arbitrária.”
O ato realizado teve como bandeira a destituição do presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), e o fechamento do Supremo Tribunal Federal. Lima, no entanto, nega que esses tenham sido os temas centrais da mobilização e diz que o objetivo foi “fazer a defesa da família Bolsonaro”.
“A família toda está sendo muito atacada, muito humilhada, principalmente porque querem retirar a força política que a família tem. Se nós não organizarmos a manifestação, alguém vai organizar” disse ele.
Entre os pares de Lima nas mobilizações está o psicólogo Wagner Cunha. Ao lado de Renan Senna, Cunha costuma fazer protestos em frente ao STF. Em vídeos, eles pedem o fechamento imediato da autoridade máxima do Judiciário do País e que seus ministros sejam submetidos a uma “corte militar” por “crimes cometidos”.
Questionado sobre esse tipo de defesa, Lima disse que foi combinado, antes da mobilização, que essas pautas não seriam mencionadas na manifestação de domingo. Como informou o Estado, o contato das lideranças que organizam as mobilizações por todo o País contou com o apoio direto do segundo vice-presidente do partido Aliança pelo Brasil, o empresário Luís Felipe Belmonte. A legenda foi lançada por Bolsonaro como forma de viabilizar sua próxima candidatura e de seus apoiadores.
Lima disse que, mesmo com o coronavírus se alastrando por todo lado, tendo chegado na quarta-feira, 6, a mais de 125 mil casos oficialmente confirmados e mais de 8,5 mil mortos, os atos continuarão, semanalmente.
“A gente pretende manter as manifestações, enquanto tivermos o dinheiro das vaquinhas e os poderes ficarem interferindo um no outro”, disse. “Tenho minha ideologia, que é conservadora. Acredito na família, na fé cristã, acredito que a gente não pode apoiar, de maneira nenhuma, a legalização do aborto. É nesse tipo de postura conservadora que eu acredito e gosto muito.”
À frente de um movimento de caráter antidemocrático e que resultou em atos de violência contra a equipe do Estado e demais jornalistas, fatos repudiados por autoridades de todo o País, Lima disse que não tem certeza sobre o episódio e que é Bolsonaro a real vítima de tudo.
“Ele, sim, o presidente, é uma pessoa democrática, uma pessoa que quer a liberdade, o bem do povo e do Brasil. Algumas pessoas não estão felizes com isso, estão tentando achar algo para causar o impeachment de nosso presidente”, disse. “Veja essas acusações do (Sérgio) Moro. Beiraram o ridículo. Ele era um herói nacional e passou para uma pessoa odiada pelo povo. Foi uma traição. Tudo isso está se somando com pandemia, pessoas presas dentro de casa, tudo isso está gerando uma indignação muito grande.”