De Moro para Aras: diga que não está à venda

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Foto: Isac Nóbrega/PR

Nas últimas horas, o Planalto fez circular “rumores” de que o presidente Jair Bolsonaro avalia indicar o procurador-geral da República, Augusto Aras, para uma vaga no Supremo Tribunal Federal. O presidente teria comentado, inclusive, que essa iniciativa dependeria da “postura” de Aras em relação ao governo. É de se supor que o procurador esteja mortalmente ofendido com a boataria.

Aras ascendeu ao cargo de chefe do Ministério Público por caminhos heterodoxos.

Seu nome nunca esteve na lista tríplice sugerida pelos procuradores. Bolsonaro o nomeou com base em indicação feita pelo amigão Alberto Fraga, ex-deputado federal, ex-líder da bancada da bala e assíduo frequentador do closet presidencial que Bolsonaro transformou em escritório. Nos dias que antecederam sua indicação para a PGR, Aras foi ao Palácio da Alvorada conversar com o presidente várias vezes — algumas delas abaixado no banco de trás do carro de Fraga, a fim de não ser notado pelos repórteres que fazem plantão no local.

O antecessor de Aras na PGR, Rodrigo Janot, registrou no livro que publicou no ano passado, Nada Menos que Tudo, que seu ex-número dois sempre sonhara com uma cadeira no STF. Em 2015, Aras, então subprocurador-geral, teria ficado chateado ao não ser indicado para a Corte na vaga de Joaquim Barbosa (que acabou ocupada pelo ministro Edson Fachin).

Hoje, Augusto Aras tem em suas mãos o destino do inquérito que corre no STF para investigar as acusações que o ex-ministro Sérgio Moro fez ao presidente da República. Encerrada a fase de investigações pela Polícia Federal, caberá a ele a decisão de oferecer ou não denúncia criminal contra Bolsonaro. Se o fizer, o presidente corre o risco de ser afastado do cargo. Já se o procurador optar pelo arquivamento do inquérito, vida que segue – Bolsonaro continua onde está e não se fala mais nisso.

Com o destino do presidente nas mãos, Augusto Aras se vê confrontado com “rumores” de que pode ver realizado seu antigo desejo de ganhar uma vaga no STF. O procurador deve estar apoplético, cioso que deve ser da sua reputação. O ex-ministro Sérgio Moro, por exemplo, deixou claro o que pensava diante do que lhe pareceu uma oferta de suborno feita pela deputada Carla Zambelli, que dizia estar falando em nome “do Palácio” quando pediu ao ministro que engolisse a indicação do delegado amigo dos Bolsonaro para a direção-geral da Polícia Federal. “Aceite o Ramagem, ministro”, disse a deputada. “E vá para o STF no ano que vem”, escreveu. “Prezada, não estou à venda”, devolveu o ex-juiz.

Caso o procurador Augusto Aras esteja procurando uma resposta à altura dos “rumores” espalhados pelo Planalto, fica a dica de Moro.

Uol