Demissão-relâmpago de Teich assusta entidades representativas da medicina
Foto: Ueslei Marcelino/Reuters
A saída de mais um titular do Ministério da Saúde complica ainda mais a situação do Brasil no enfrentamento à covid-19. Especialistas da área demonstram apreensão com a falta de uma linha de combate clara e coordenada no governo federal. O Conselho Nacional de Secretários de Saúde (Conass) manifestou a “mais alta preocupação” com a instabilidade na pasta e com a condução da pandemia no Brasil. “Estamos diante da maior calamidade na saúde pública, com o maior número de mortos de nossa história recente. Não é o momento de jogar mais dúvidas neste cenário, que tem infligido tanta dor, sofrimento e morte aos brasileiros”, disse Alberto Beltrame, presidente do Conass.
Ele cobrou ações coordenadas e claras. “Estabilidade, unidade técnica, esforços conjuntos, ações efetivas e compromisso com a vida e com saúde da população é o que se espera dos gestores neste momento. Em todas as esferas de governo.”
Já a presidente da Sociedade de Infectologia do Distrito Federal, Heloísa Ravagnani, criticou a falta de “uma linha específica de protocolo”. Os dois últimos ministros da Saúde — Nelson Teich e Luiz Henrique Mandetta — vinham seguindo a linha semelhante: isolamento social e restrição ao uso da cloroquina. “Seria bom manter essa posição. A medicina deve ser feita baseada em evidências, porque a gente não deve fazer mais mal ao paciente do que a própria doença”, argumentou Ravagnani, referindo-se ao futuro ocupante do cargo.
Questionado sobre a saída de Teich, o diretor-executivo da Organização Mundial da Saúde (OMS), Mike Ryan, evitou fazer comentários políticos, mas disse estar ciente da alta no número de novos casos no país. “É crucial que haja coerência e coesão na abordagem da sociedade e do governo, especialmente em grandes federações, onde as comunidades precisam ouvir uma mensagem consistente das lideranças em todos os níveis”, respondeu, durante coletiva de imprensa, em Genebra, na Suíça.