Feriadão é última chance de paulistas evitarem lockdown
Foto: EPA / Marcelo Machado de Melo
Se o ‘megaferiado’ falhar, o lockdown deverá ser implementado na Região Metropolitana de São Paulo, com um protocolo focado nas atividades comerciais. Elaborado por autoridades de saúde, o documento prevê focar na ampliação do número de atividades não autorizadas a funcionar. Limitar de maneira extrema a circulação de pessoas não é uma intenção.
Embora esteja definido que, em um eventual lockdown, haverá restrição a atividades do comércio, o tamanho desta limitação ainda está sendo calibrado. As possibilidades têm, no espectro mais radical, a proposta de permitir que somente supermercados, mercados e farmácias continuem funcionando.
Na versão mais leve do decreto, atividades que hoje são permitidas durante a quarentena passariam a ser proibidas. De acordo com o governo estadual, 74% das atividades estão autorizadas atualmente. Um exemplo citado ao UOL como setor que seria fechado foi o de telemarketing.
A necessidade de lockdown é um tema tratado no Palácio dos Bandeirantes, sede do governo paulista, desde a semana passada. No dia 13, o Centro de Contingência ao Coronavírus em São Paulo comunicou que os indicadores de saúde faziam a medida precisar ser empregada.
A abrangência da área em que o aumento de restrições será aplicado compreenderia a Região Metropolitana da capital, principal epicentro da covid-19 no país. Mas existe a possibilidade de que a Baixada Santista também seja incluída, por causa do avanço da pandemia na região. Esta possibilidade segue em avaliação.
Ontem, em entrevista coletiva, o governo de São Paulo revelou que o interior chegou a um ritmo de crescimento no número de casos e mortes por covid-19 superior ao registrado na região metropolitana da capital. Ainda assim, a avaliação é de que, com exceção da Baixada Santista, a situação no restante do Estado ainda não atingiu um patamar que exija lockdown.
Outro ponto sob discussão são as penalidades para quem desrespeitar a medida, caso seja decretada. Policiais militares serão usados para garantir o respeito ao aumento de restrição à circulação, mas as punições não estão definidas.
Não era intenção do governo de São Paulo recorrer ao lockdown, por causa do sacrifício que a medida impõe à população. Mas o agravamento da pandemia não cessa — anteontem houve recorde de mortes num intervalo de 24 horas, quando o Estado ultrapassou a marca de 5 mil mortos em decorrência da covid-19.
Houve uma tentativa derradeira de aumentar o isolamento social com a criação do megaferiado. A prefeitura antecipou dois feriados municipais para ontem e hoje e decretou ponto facultativo na sexta. O governo do Estado trabalha para antecipar o feriado de 9 de julho para a próxima segunda-feira (25) e, dessa forma, acumular seis dias sem abertura de parte do comércio.
Na próxima terça-feira, será realizada nova reunião do Centro de Contingência ao Coronavírus para avaliar a efetividade dessa medida. Falhar significa lockdown.
E este é o cenário que se desenha mais fortemente. Logo no primeiro dia (ontem), o megaferiado teve comércio no Brás, circulação de moradores nas periferias e até piquenique no Parque do Ibirapuera. Cabe ressaltar que no dia 31 de maio (domingo) se encerra o período de quarentena, e o governador João Doria (PSDB) terá de tomar uma decisão sobre como enfrentar a pandemia.
Questionada sobre o lockdown e o protocolo, a Secretaria Estadual de Comunicação informou que Doria falou sobre o assunto ontem, em entrevista coletiva, mas não deu detalhes ou antecipou qualquer data sobre a decisão que ainda é apenas hipotética. Na ocasião, o governador indicou que o megaferiado é a última cartada antes do lockdown.
“Se nós não tivermos solidariedade, os índices crescerem ainda mais e colocarmos em risco a vida das pessoas, seremos obrigados a adotar o lockdown”, declarou. “Vamos fazer um esforço nesses seis dias, de hoje [ontem] até segunda-feira, na capital, na Região Metropolitana, no interior e no litoral, para evitar medidas mais duras e mais restritivas”, acrescentou.
Mais cedo, edição do Diário Oficial para contratação de 4.500 leitos de hospitais privados, sendo 1.500 de UTI, estimou que o sistema de saúde não suporta mais do que três semanas, caso a curva de aceleração da pandemia não seja alterada.
“Mantido o crescimento atual de ocupação, e não obstante a adoção, quando possíveis, de alternativas, como a redução do tempo de permanência dos pacientes, além da relocação de pacientes, certamente ocorrerá, em três semanas, o colapso no sistema de saúde, pois os leitos de UTI disponíveis ainda não são suficientes”, informou.