Auxiliares aconselham Bolsonaro a parar de atacar STF
Foto: Reprodução
O presidente Jair Bolsonaro foi aconselhado por auxiliares a baixar tom e cessar ataques ao Supremo Tribunal Federal (STF). A avaliação de integrantes do alto escalão do governo é a de que o inquérito que apura suposta interferência do presidente na Polícia Federal não deve avançar e que, diante desse cenário, uma escalada do mandatário do Palácio do Planalto contra o Judiciário tende a ser inócua e contraproducente.
Embora integrantes do governo vejam ingrediente político na atuação de magistrados do Supremo — em especial de Alexandre de Moraes e Celso de Mello — , ministros do núcleo duro têm atuado para serenar os ânimos e evitar uma nova crise entre os Poderes.
Neste contexto, os ministros da Justiça, André Mendonça, da Secretaria-Geral da Presidência, Jorge Oliveira, e da Advocacia-Geral da União, José Levi Mello do Amaral Junior, tiveram papel fundamental na elaboração da nota divulgada nesta segunda, em que Bolsonaro pregou “independência e harmonia entre as instituições da República”.
O texto, no qual o presidente também se diz comprometido com a democracia e afirma respeitar os integrantes do Legislativo e do Judiciário, foi elaborado no momento em que passaram a surgir especulações sobre a possibilidade de Bolsonaro elevar o tom das críticas contra o decano do STF.
No domingo, Bolsonaro sugeriu que Celso de Mello teria cometido crime de abuso de autoridade ao divulgar o vídeo da reunião ministerial de 22 de abril. O presidente postou um dos artigos da lei 13.869, de 2019. “Art. 28. Divulgar gravação ou trecho de gravação sem relação com a prova que se pretenda produzir, expondo a intimidade ou a vida privada ou ferindo a honra ou a imagem do investiga ou acusado: pena – detenção de 1 (um) a 4 (quatro) anos”, publicou.
Apesar de auxiliares de Bolsonaro também considerarem excessivas medidas adotadas pelo ministro, a avaliação é a de que uma eventual ofensiva contra o magistrado seria um erro, uma vez que estimularia o chamado espírito de corpo na corte.
Nos bastidores, a decisão de Celso de Mello de, horas antes de divulgar o vídeo da reunião ministerial, enviar para a Procuradoria Geral da República (PGR) pedidos sobre apreensão do celular do presidente, foi lida como provocação, mas os ministros mais próximos a Bolsonaro atuaram para evitar que o clima ficasse ainda mais acirrado e relataram ao mandatário do Palácio do Planalto que o procedimento era de praxe.
A avaliação é a de que um conflito institucional no momento em que o país enfrenta a grave epidemia do novo coronavírus só traria mais prejuízos.
Como o GLOBO mostrou nesta terça, André Mendonça também atuou para tentar amenizar a fala do ministro da Educação, Abraham Weintraub, defendendo a prisão de ministros do Supremo. Preocupado com a repercussão negativa do episódio e com a possível destruição de pontes com o Judiciário, o ministro da Justiça, André Mendonça, procurou integrantes da Corte.