Como a Alemanha impede o desemprego na pandemia

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Foto: Reprodução/ Veja

Ao confinar quatro bilhões de pessoas em casa, o novo coronavírus produziu um rastro de destruição na economia poucas vezes visto na humanidade. O Grande Confinamento, termo usado pelo Fundo Monetário Internacional (FMI) para designar a atual recessão, deverá deixar 305 milhões de desempregados em 2020.

Só nos Estados Unidos, 40 milhões de pessoas, ou 25% da população, já enfrentam o problema, percentual só visto durante a Grande Depressão dos anos 1930. Na Índia, 100 milhões viram-se sem o sustento da noite para o dia. E no Brasil, 1 milhão de postos com carteira assinada evaporaram.

Mas esse efeito perverso pode ser evitado. É o que mostra a Alemanha, país que, segundo o FMI, deve encerrar 2020 com desemprego na faixa dos 4%. Ou seja, em invejável situação de pleno emprego.

Esse cenário confortável, porém, não significa que os alemães foram poupados pela crise. O PIB do país deve fechar o ano com queda de 7%, o maior tombo desde a Segunda Guerra Mundial. O segredo está num programa conhecido como Kurzarbeit (trabalho de curta duração).

Trata-se de uma política pública em que o governo assume parte da folha de empresas que estão em dificuldades. A medida pode ser estendida por até 21 meses, tempo mais que suficiente para que os empresários se recuperem.

Assim, o estado passa a pagar até 80% dos salários dos funcionários, uma ajuda que pode chegar a até 5.000 euros mensais. Assim, os empresários tem alívio imediato no caixa, e os empregados recebem a garantia que não serão demitidos enquanto durar o cenário adverso.

Desde março, quando a pandemia se intensificou, o Kurzarbeit se expandiu rapidamente. Segundo o Ministério do Trabalho alemão, ao menos 9 milhões de empregados, ou 20% da força de trabalho, estão sendo assistidos pelo programa, um número inédito. Eles pertencem, sobretudo, à indústria, setor fundamental à poderosa máquina exportadora alemã.

Especialistas creditam a rápida recuperação da Alemanha em crises anteriores, como a recessão de 2009, ao Kurzarbeit. Ao permitir que empresas mantenham boa parte dos trabalhadores, mesmo os de maior salário e qualificação, a iniciativa não só suaviza a contração econômica quando o cenário é adverso, como também encurta a duração das crises. “Como não tem medo de perder o emprego, as pessoas podem seguir consumindo, o que mantém a roda da economia girando”, diz Anelies Goger, especialista em desigualdade do Brookings Institution, de Washington.

Uma eficácia que, por sinal, já havia sido demonstrada em outros períodos de grande incerteza. O Kurzarbeit é, na verdade, centenário, e remonta ao conturbado início do século XX. Sua estreia aconteceu às vésperas da Primeira Guerra (1914-1918), sendo utilizado ainda na reconstrução que se seguiu ao segundo conflito global (1939-1945). À época, ajudou um enorme contingente de alemães na travessia de crises econômicas e sociais.

O sucesso é tanto que o programa vem sendo copiado na Europa. No momento, França, Itália, Espanha e até o Reino Unido, país que costuma rejeitar maiores regulações sobre a economia, têm cerca de 20% de seus trabalhadores beneficiados por programas do tipo.

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