Deputado bolsomínion investigado por fake news finge alienação
Foto: Câmara dos Deputados
Um dos investigados por disseminar notícias falsas e promover ataques a ministros do Supremo Tribunal Federal (STF), o deputado federal Filipe Barros (PSL-PR) disponibilizou nesta sexta-feira uma palestra virtual em que critica o que chamou de “CPMI da Censura”. Segundo ele, o inquérito faz parte de um plano do STF, “grande mídia” e opositores de Jair Bolsonaro para censurar a liberdade de expressão e “retomar o poder”.
Além de outros sete parlamentares, Barros foi um dos alvos da operação da Polícia Federal da última quarta-feira. As buscas miraram computadores, celulares e outros dispositivos eletrônicos em endereços ligados aos investigados em cinco estados e no Distrito Federal. Junto a empresários e blogueiros, o grupo é suspeito de operar e financiar uma rede de difamação na internet.
A palestra de Filipe Barros foi publicada no site de um congresso online organizado pelo Movimento Brasil Conservador (MBC), grupo bolsonarista que ajuda a promover hashtags contra o STF e desafetos do presidente Bolsonaro. O tema de sua exposição foi “Liberdade de expressão e a ‘CPMI da Censura'”, referente à comissão instalada no Congresso para apurar promoção de notícias falsas com objetivos políticos.
— A CPMI está sendo utilizada para perseguir quem se manifesta nas redes sociais. Muitas vezes, é verdade, são opiniões críticas e ácidas, como tem que ser, em relação a atitudes do STF ou em relação até a outros parlamentares. É uma perseguição a pessoas que usam a internet livremente — declarou o deputado.
O inquérito que levou à operação da PF foi aberto pelo presidente do STF, Dias Toffoli, em março de 2019, para investigar ofensas e ameaças à Corte. O relator do caso, o ministro Alexandre de Moraes, cita em seu relatório a existência do chamado “gabinete do ódio”, grupo ligado à presidência da República e que, segundo as investigações, comandaria o esquema. Filipe Barros mencionou o grupo na palestra sem desmentir seu funcionamento.
— Quando alguém fala “ah, gabinete do ódio”. É gabinete do ódio mesmo. É ódio a tudo que não presta, é ódio à corrupção, a esse sistema que foi instalado no nosso país nos últimos anos, em que você pagava propina para os deputados para ter sua base parlamentar, é ódio a essa crise moral que nós estamos vivendo no Brasil.
Na palestra, Barros também cita a jornalista Patrícia Campos Mello, da “Folha de S.Paulo”, de forma pejorativa, com uma piada machista. Assim como o deputado, o presidente Bolsonaro tambem já atacou a jornalista com ofensas de cunho sexual, em referência ao depoimento à CPMI das Fake News de Hans River do Nascimento, ex-funcionário de uma empresa que fez disparos em massa pelo WhatsApp nas eleições de 2018. A reportagem de Patrícia levou a uma ação do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) para apurar impulsionamento de mensagens de WhatsApp por empresários ligados a Bolsonaro
Além de Filipe Barros, outros investigados pela Polícia Federal fazem parte da programação do congresso do MBC, como os deputados Bia Kicis (PSL-DF) e Daniel Silveira (PSL-RJ), o blogueiro Allan dos Santos, a ativista Sara Winter e o youtuber Bernardo Küster. O deputado Eduardo Bolsonaro, o ministo da Educação, Abraham Weintraub, e seu irmão Arthur Weintraub, assessor especial da presidência, também participam.
Em sua palestra, Arthur Weintraub discorreu sobre a Revolução Francesa, criticou o filósofo iluminista Jean-Jacques Rousseau e afirmou que a separação entre os Três Poderes numa república democrática, o Executivo, o Judiciário e o Legislativo, “não funcionam na prática”. Apesar da afirmação, não deu maiores explicações.
— Esses iluministas começam a criar essa ideia de separação de poderes, sistema de freios e contrapesos, que na teoria é muito bonito, mas na prática muitas vezes não tem funcionado. Então, “ah, os Três Poderes são harmônicos, equilibrados”… A gente tem exemplos de que isso não acontece tanto. E esse sistema de poderes harmônicos, essa teoria do Estado, de pacto social, vai fortalecendo demais o Estado. E o Estado vai criando tecnologias de controle das pessoas, e de imposto, e de paternalismo. Se você reparar, o Estado começa a te controlar e te exigir imposto — declarou.