Deputados investigados gastaram verba da Câmera com marqueteiro
Fotos: Reprodução/Câmara dos Deputado
Nos últimos três meses, os deputados bolsonaristas Aline Sleutjes (PSL-PR), Bia Kicis (PSL-DF), General Girão (PSL-RN) e Guiga Peixoto (PSL-SP) gastaram R$58.110, pagos com verba dos gabinetes, para contratar os serviços do publicitário Sérgio Lima. O empresário é marqueteiro do Aliança pelo Brasil, partido político que o presidente Jair Bolsonaro tenta tirar do papel desde que rompeu com a ala que dirige o PSL, sigla pela qual qual foi eleito.
Os parlamentares e o publicitário são investigados no inquérito que apura a organização e financiamento de atos antidemocráticos. Nesta terça, 16, endereços ligados a Sérgio Lima foram alvos de mandados de busca e apreensão cumpridos pela Polícia Federal. Já os deputados tiveram os sigilos fiscais quebrados por determinação do ministro Alexandre de Moraes, responsável pela condução das investigações.
Apesar da quebra de sigilo, os dados colhidos pelo Estadão são públicos: estão disponíveis no Portal da Transparência da Câmara dos Deputados e foram classificados pelas equipes de gabinete como ‘divulgação da atividade parlamentar’.
Nas notas fiscais emitidas pelos serviços, também disponíveis no site, as contratações aparecem indicadas como produção de conteúdo para mídias sociais e monitoramento das contas dos parlamentares nas redes.
Até fevereiro, a empresa de Sérgio Lima, a Inclutech, que foi aberta em 2011, era uma companhia de cosméticos. A atividade econômica foi alterada para prestar serviços publicitários que agora incluem, segundo o cadastro junto à Receita Federal, serviços ligados à tecnologia da informação e publicidade. As notas emitidas para os parlamentares figuram entre as 15 primeiras da nova fase da Inclutech.
Além de marqueteiro do Aliança pelo Brasil, Sérgio Lima passou a atuar como auxiliar palaciano nos pronunciamentos do presidente desde março, mês em que esteve na comitiva do governo aos Estados Unidos.
Atos antidemocráticos. A investigação para apurar a organização de atos contra a democracia e as instituições foi aberta a pedido da Procuradoria-Geral da República após a participação do presidente Jair Bolsonaro em uma manifestação para comemorar o dia do Exército, em 19 de abril, que contou com gritos e cartazes defendendo o fechamento do Congresso, do STF e a reedição do AI-5, o ato institucional que endureceu o regime militar.
As diligências do inquérito começaram a andar na segunda-feira, 15, quando a Polícia Federal deu início ao cumprimento de seis mandatos de prisão contra integrantes do grupo bolsonarista ‘300 do Brasil’. Uma de suas lideranças, a extremista Sara Fernanda Giromini, foi presa ontem. Mais três integrantes do grupo foram detidos no dia seguinte.
Na terça, 16, uma força-tarefa voltou às ruas para fazer buscas e apreensões em São Paulo, Rio de Janeiro, Minas Gerais, Maranhão, Santa Catarina e no Distrito Federal. Entre os alvos da ação, estavam o próprio Sérgio Lima, além do deputado federal bolsonarista Daniel Silveira (PSL-RJ), o blogueiro Allan dos Santos, o empresário e advogado Luís Felipe Belmonte, principal operador político do Aliança pelo Brasil e o investidor Otavio Fakhoury, financiador do site Crítica Nacional. No mesmo dia, a imprensa teve acesso à informação da quebra de sigilo de onze deputados e um senador, todos apoiadores do presidente.