Trump obstrui investigações contra aliados

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Foto: Eduardo Munoz/Reuters

O procurador-geral dos Estados Unidos, William Barr, disse neste sábado (20) que o presidente Donald Trump demitiu o chefe da procuradoria de Manhattan, Geoffrey S. Berman, responsável pela investigação de vários aliados do governo.

Na sexta (19), Barr havia anunciado a demissão de Berman —que insistiu, no entanto, que não sairia do cargo. Ele e sua equipe estiveram à frente de investigações de corrupção no círculo íntimo de Trump, tendo processado o antigo advogado pessoal do presidente, Michael Cohen —que foi preso— e conduzido investigações sobre seu atual advogado, Rudolph Giuliani.

Na tarde de sábado, Berman confirmou a saída, encerrando a queda de braço com Barr.

A disputa revela novos esforços de Trump e de seus aliados para se desfazer de servidores que, para o presidente, não são leais o suficiente a ele.

Antes de sair para um comício em Tulsa, em Oklahoma, o presidente, no entanto, tentou se distanciar da demissão. Ele disse a repórteres que “não estava envolvido” na história.

O caso disparou uma crise no Departamento de Justiça, envolvendo um de seus cargos mais prestigiosos, num momento em que a pasta vem sendo acusada de abrir mão de sua tradição de independência para sucumbir a interferências políticas.

Nos Estados Unidos, o procurador-geral é também chefe do equivalente ao Ministério da Justiça, funções que no Brasil são separadas.

Numa carta endereçada a Berman, Barr disse que estava “surpreso e bastante desapontado” pela declaração pública do procurador na noite de sexta, quando disse que não havia renunciado ao cargo e que não tinha intenção de fazê-lo.

“Pedi ao presidente para removê-lo [do cargo] hoje, e ele fez isso”, escreveu Barr.

 

O anúncio de Barr, afirmando que Trump buscava substituir Berman, não teve aviso prévio. O procurador- geral disse que o presidente tinha intenção de indicar para o cargo Jay Clayton, chefe da Comissão de Títulos e Câmbio dos EUA, que nunca atuou como procurador.

Segundo fontes do jornal The New York Times, Trump discute há algum tempo com seus conselheiros a remoção de Berman do cargo de procurador do distrito sul de Nova York, e estava incomodado com ele desde que seu escritório investigou seu ex-advogado, Michael Cohen.

O expurgo de funcionários públicos por Trump se intensificou nos meses desde que o Senado o absolveu do processo de impeachment, em fevereiro. O presidente, por exemplo, demitiu ou forçou a demissão de inspetores-gerais responsáveis pela supervisão independente do governo.

O conflito público entre Barr e Berman, que tomou grandes proporções nesta sexta, foi mais um episódio do período tumultuado por que vem passando o Departamento de Justiça nos últimos meses.

As intervenções do procurador-geral em casos de vulto envolvendo conselheiros próximos de Trump, como Roger Stone Jr. e Michael Flynn, provocaram acusações de especialistas em direito público de que Barr havia politizado o departamento.

O movimento de Barr contra Berman vem poucos dias depois de John Bolton, ex-conselheiro de segurança nacional de Trump, afirmar em um novo livro que o presidente quis interferir em uma investigação que o procurador de Nova York conduzia sobre um banco da Turquia, para melhorar as negociações de Washington com o presidente Recep Tayyip Erdogan.

O escritório de Manhattan é talvez o posto mais famoso de procuradoria federal nos Estados Unidos. Ao longo de gestões anteriores de democratas e republicanos, costuma valorizar a tradição de independência do Departamento de Justiça em Washington. Já recebeu o apelido de “Distrito Soberano de Nova York”.

Folha