Bolsas veem “estabilização” da covid10 enquanto doença bate recordes
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Enquanto a curva da pandemia de covid-19 no mundo ainda frustra a expectativa pela chegada de seu platô, as bolsas do mundo parecem ter chegado lá.
Depois de juros baixos e trilhões de dólares injetados por bancos centrais ao longo dos três meses oficiais de quarentena completados nesta semana, investidores parecem agora esperar por grandes novidades.
Se forem positivas, como a descoberta de uma vacina, o índice, enfim, poderá alçar voos além dos níveis pré-pandemia que têm rondado.
Ou, como alertou o Fundo Monetário Internacional (FMI) na véspera, a realidade se impondo pode trazer tombos tão grandes quanto têm sido as altas, desconectadas da crise batendo à porta de todas as Nações.
A pouca mobilidade dos índices de bolsa acentuada na semana, e para baixo, reflete bem esse momento de cautela redobrada.
No Brasil, por exemplo, desde que superou a barreira de 90 mil pontos no fechamento de 2 de junho, o Ibovespa não mais perdeu esse terreno. Mas, de lá para cá, também não teve força para subir além dessa faixa.
Na semana, foi se agarrando em juros baixos e boas notícias sobre grandes economias, em reação ao relaxamento de medidas de isolamento, que o Ibovespa encontrou espaço para ganhos em alguns pregões. Anda que já menos frequentes, são esses os mesmos principais gatilhos que desde maio propiciaram rápida retomada às bolsas, após a sequência de circuit breakers de março.
Na terça, por exemplo, ajudaram a levantar o preço de ações no mundo dados positivos sobre os Estados Unidos e, principalmente, sobre a zona do euro, superando expectativas.
No entanto, nos últimos dias, a reação da pandemia vem se sobrepondo a empolgação com dados econômicos. A semana começou já sob efeito do novo recorde mundial de novos casos da doença em 24 horas, no último fim de semana – com o Brasil sendo o país a mais contribuir com os números.
Do ponto de visto do investidor, pesa sobretudo o cenário alarmante de grandes economias cujas suspensões de medidas de isolamento têm permito rápida retomada. O risco em jogo é o de quarentenas serem inevitavelmente retomadas, interrompendo a retomada de atividade de China, Europa e Estados Unidos estampada nos retrovisores.
Ainda que não para todo os estados americanos, essa opção já está na mesa da Casa Branca, como revelou na véspera o principal assessor econômico da Casa Branca, Larry Kudlow. Mas com o aviso de que a imposição talvez seja necessária só para alguns estados, e não para todos, investidores fecham a semana um pouco menos aflitos em relação a essa possibilidade.
No acumulado da semana, o Ibovespa acompanhou a realização de lucros vista no mundo, e passou por queda não só de patamar. Com investidores mais contidos, o volume médio diário negociado por suas 75 ações, de R$ 24,9 bilhões na semana passada, afundou 26% nesta, para R$ 18,4 bilhões.
Nesta sexta-feira, após tombo de 2,24%, o Ibovespa estacionou nos 93.834 pontos, com perdas acumuladas de 2,84% na semana. Em maio, o saldo positivo é de 7,36%. Em 2020, tombo de 18,86%.
O câmbio no Brasil, por sua vez, voltou a se encaminhar um pouco mais para cima, com investidores reconsiderando os riscos topados semanas atrás, quando o dólar no Brasil chegou a beliscar a faixa dos R$ 4 no começo do mês.
Com alta de 2,34% nesta sexta-feira, o dólar comercial foi aos R$ 5,4609. Na semana, alta de 2,70%. Em junho, alta de 2,33% até aqui; em 2020, pulo de 36,19%.
A busca por proteção desta sexta aconteceu sob o impacto do recorde de novos casos de covid-19 nos Estados Unidos nas últimas 24 horas, superando registro feito em abril.
Nesta sexta-feira, foi a vez de o vice-presidente americano, Mike Pence, reforçar a mensagem deixada por Kudlow um dia antes. Alertou para as curvas crescentes da covid-19 em 16 dos 50 estados americanos. Mas reafirmou que a Casa Branca não está disposta a fechar a economia americana novamente para lidar com os novos casos da doença.
O estado do Texas, que concentra parte importante dos recordes, readotou nesta sexta algumas medidas de isolamento. Nesta semana, Nova York já havia voltado a impor quarentena de 14 dias para visitantes vindos de determinadas localidades. Estão em situação crítica semelhante estados como Carolina do Norte, Califórnia e Flórida.
Com essas notícias, a sexta-feira foi de perdas de 0,39% para o Stoxx 600, índice que reflete o sobe e desce nos papéis mais negociados em 18 países do continente. Na semana, parando aos 358,32 pontos, queda acumulada de 1,95%.
Entre as principais bolsas europeias nesta sexta, só a de Londres se salvou. O índice FTSE foi beneficiada pela alta das ações do papel da companhia de engenharia Weir Group, a maior do continente, de 5,37%. O salto veio após o anúncio do refinanciamento de linhas de crédito já ativas e da tomada de novos empréstimos pela empresa.
Na semana, até os preços do petróleo no mercado futuro parecem ter encontrado seu platô, enquanto as curvas da covid-19 ainda perseguem o seu. Esta foi apenas a segunda semana de recuo no nível de preços da commodity nas últimas nove. No período, como as bolsas, o petróleo veio sendo reconduzido aos níveis pré-pandemia.
A sustentação dessas últimas semanas de recuperação tem vindo pelos pontas da oferta e da demanda.
No lado ofertante, os maiores produtores do mundo, a indústria americana e a Organização dos Países Exportadores de Petróleo e seus aliados, vêm cortando diariamente os volumes de petróleo colocados à venda.
No entanto, a frente da demanda, que vinha reagindo, agora fraqueza. Na semana, coincidindo com a nova onda de covid-19 passando pelos Estados Unidos, os estoques de petróleo por lá voltaram a subir no país.
Nesta sexta-feira, contratos para agosto negociados em Nova York (WTI, referencial do mercado local) ficaram 0,59% mais baratos, terminando a semana nos US$ 38,49 por barril. Em Londres (Brent, norte global dos preços), o recuo dos compromissos de mesmo prazo foi de 0,07%, com barris a US$ 41,02.
E se a semana começou com o presidente americano, Donald Trump, diminuindo tensões ao garantir que o acordo comercial assinado com a China em janeiro segue “intacto”, a sexta-feira trouxe de volta o embate das duas maiores potenciais econômicas aos radares.
Agências internacionais relatam as ameaças feitas por Pequim à Washington de rasgar a trégua assinada no começo do ano, caso os Estados Unidos mantenham o que a China considera pressão em “assuntos internos”.
Na véspera, o Senado dos Estados Unidos aprovaram uma lei que abre caminho para a imposição de sanções contra a China, caso os asiáticos coloquem em risco a autonomia de Hong Kong. O “status especial” tem sido conferido por Pequim à ilha desde 1997, quando foi devolvida aos chineses pelo Reino Unido.
Com a queda forte desta sexta-feira, o platô do S&P 500 foi alcançado na semana com recuo acumulado de 2,86%. A carteira do índice reúne os 500 papéis mais negociados de Wall Street.
Nesta semana de perdas em baciada, quem ficou na lanterna foi a Cielo, com recuo acumulado de 18,77% de seus papéis.
Dias atrás, as ações da empresa de maquininhas andava em alta, após acordo com WhatsApp para parceria em seu novo meio de pagamentos e transferências no Brasil. O Banco Central, no entanto, pode azedar o negócio.
Na liderança de ganhos ficaram os papéis da IRB, com salto de 13,76%. Lideraram também esta sessão derradeira, com alta de 5,42%.
As ações da companhia resseguradora regiram ao anúncio, feito pela empresa, de irregularidades da ordem de R$ 60 milhões em bônus nos seus balanços, identificadas após auditoria externa concluída pela KPMG.
Neste dia de perdas para 71 das ações do Ibovespa, destaque entre as quatro altas também para os papéis da WEG, com ganhos de 1,58%.
Na véspera, o BTG Pactual elevou em relatório o preço-alvo dos papéis. A companhia de maquinários foi notícia na semana também por comprar uma startup com foco em inteligência artificial – seria um importante passo rumo à indústria 4.0 não fosse a pandemia, é ainda mais depois dela.
Nesta sexta, foram movimentados R$ 17,6 bilhões pela carteira do Ibovespa.