Explodem contas falsas em nome de ministro da Educação
Foto: Geraldo Magela/Agência Senado
Na última quinta-feira, após o presidente Jair Bolsonaro anunciar que Carlos Decotelli da Silva é o novo titular do Ministério da Educação (MEC), a pasta divulgou um comunicado: o professor e militar da reserva da Marinha não tem conta no Twitter. O alerta foi emitido porque havia ao menos uma página com o nome e foto dele na plataforma, com ataques direcionados a ministros do Supremo Tribunal Federal (STF); o presidente do Senado, Davi Alcolumbre (DEM-AP); os ex-ministros Sergio Moro e Henrique Mandetta e o governador de São Paulo, João Doria (PSDB).
Nos últimos dois dias, contas falsas como essa se multiplicaram nas redes sociais. O Sonar encontrou, até a noite de sexta-feira, 20 delas (a maioria no Instagram). Ao todo, os fakes já angariaram mais de 19,2 mil seguidores utilizando imagens do ministro recém-anunciado. Parte deles embarcou na empreitada com o objetivo de consolidar uma estratégia para ganhar público antes de deixar Decotelli para trás.
O primeiro perfil encontrado no Twitter — autor dos ataques a autoridades — respondia pela conta de usuário nomeada @decotelli1. Ela estava ativa desde fevereiro de 2020 e apresenta publicações de apoio a parlamentares bolsonaristas feitas a partir de março. Na quinta-feira, após o novo comando do MEC ser escolhido, o usuário em questão publicou mensagens que teriam sido escritas por Decotelli para elogiar o antecessor, Abraham Weintraub, e atacar a esquerda. O texto, conforme informou a pasta, não era do ministro. Uma das publicações foi curtida mais de 1,5 mil vezes. Depois da repercussão, a conta mudou de forma: agora, se apresenta como @canalapoiobolso ou Canal Apoio Bolsonaro.
O caso se repetiu em outro perfil do Twitter que antes exibia os dados de Decotelli, mas agora se chama apenas @20milporpost. A página, criada neste mês, passou a ser ilustrada por uma mão empunhando a bandeira brasileira, sem qualquer referência ao ministro. Também há mensagens atribuídas a ele, as mesmas exibidas na outra conta encontrada pelo Sonar.
As páginas em questão seguiram trajetórias diferentes para alcançar o mesmo objetivo. A primeira já existia há quatro meses e foi repaginada para parecer que pertencia a Decotelli, atraindo apoiadores bolsonaristas e curiosos antes de retornar à forma original: uma central de apoio ao presidente. A segunda é recente e se apoiou na imagem do ministro pelo mesmo motivo, permanencendo no ar até agora com o objetivo de angariar audiência.
O professor da Universidade da Virgínia, David Nemer, que pesquisa sobre grupos bolsonaristas sediados no WhatsApp, fez ponderações sobre a tática em sua conta no Twitter. Para ele, essa é uma maneira de se construir audiência e contas ligadas ao apoio do presidente: “Alteram o nome de uma conta antiga para o nome de um recém-contratado do governo”, explicou o acadêmico, pontuando que episódio semelhante aconteceu quando a médica Nise Yamaguchi passou a ser cotada para assumir o Ministério da Saúde, em maio, e teve o rosto estampado em contas falsas.