Cura da AIDS pode ter sido descoberta

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Foto: NIAID/NIH

O primeiro caso de um homem soropositivo que entrou em remissão de longo prazo depois de ser tratado durante menos de um ano com um coquetel intensificado de vários remédios contra Aids aumentou nesta terça-feira a esperança de uma cura futura da doença. Os resultados foram divulgados na última semana por pesquisadores da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp) na AIDS 2020, uma conferência médica anual.

O brasileiro de 34 anos, que foi diagnosticado com HIV em outubro de 2012, foi tratado com uma base de terapia antirretroviral que foi reforçada com outros antirretrovirais e ainda um medicamento chamado nicotinamida, uma forma de vitamina B3.

O tratamento intensificado foi interrompido depois de 48 semanas, disseram médicos nesta terça-feira, e 57 semanas depois o DNA de HIV em suas células e seu exame de anticorpos de HIV continuavam negativos. Desde então, seu sangue é colhido a cada três semanas. As amostras não trouxeram qualquer indício de infecção.

— Este caso é extremamente interessante, e realmente espero que possa impulsionar pesquisas adicionais para uma cura do HIV — disse Andrea Savarino, médico do Instituto de Saúde da Itália que coliderou o teste, em uma entrevista à instituição de caridade britânica NAM Aidsmap.

Ele alertou, porém, que quatro outros pacientes soropositivos tratados com o mesmo coquetel não viram efeitos positivos contra o vírus causador da Aids:

— Este resultado muito provavelmente não pode ser reproduzido. Este é um primeiro experimento (preliminar), e eu não faria previsões para além disso.”

Enquanto cientistas correm para desenvolver vacinas e tratamentos contra a Covid-19, continua a luta para encontrar uma cura para o HIV, que já infectou mais de 75 milhões de pessoas e matou quase 33 milhões desde que a epidemia de Aids começou nos anos 1980.

Pacientes que têm acesso a remédios contra Aids conseguem controlar o vírus e impedir o avanço da doença, e existem várias maneiras de impedir sua disseminação, mas hoje 38 milhões de pessoas convivem com o HIV.

As esperanças de uma cura da Aids cresceram nos últimos anos graças a dois casos de remissão em homens que são descritos por médicos especializados em HIV como “funcionalmente curados” depois de serem tratados com transplantes de medula altamente arriscados e complexos.

Comentando o caso mais recente, que foi apresentado em uma conferência sobre a Aids em San Francisco, nos Estados Unidos, Sharon Lewin, uma especialista em HIV do Instituto Doherty da Austrália, disse que ele é “muito interessante”, mas que provocou muitas dúvidas.

“Como este homem fez parte de um teste clínico maior, será importante entender totalmente o que aconteceu com os outros participantes”, disse ela em um comentário enviado por email.

Para Steve Deeks, que pesquisa o vírus HIV na Universidade da Califórnia (EUA), também demonstra cautela, mas afirma que a ausência de anticorpos é o componente que mais chama atenção no caso.

— Haverá muito burburinho e muita controvérsia. Se estou cético? É claro. Estou intrigado? Absolutamente — afirma Deeks.

Para o professor americano, é necessário aguardar por análises de laboratórios independentes até determinar se o paciente brasileiro está, de fato, livre do vírus HIV. E mesmo que isso ocorra, Deeks lembra que não ficará claro que a cura é resultante do tratamento recebido.

Acredita-se que nicotinamida e o maraviroc, outro antirretroviral usado no tratamento do brasileiro, atraiam o HIV para fora de seus esconderijos no organismo humano, os chamados reservatórios latentes, permitindo que outras drogas eliminem o vírus. Segundo Ricardo Diaz, membro da equipe responsável pela pesquisa, a nicotinamida também potencializa o sistema imunológico.

O Globo