Bolsonaro doente é pior que são, dizem cientistas
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Nem mesmo a infecção pelo novo conronavírus fez com que o presidente Jair Bolsonaro mudasse sua postura diante da covid-19, que até ontem matou 66.741 pessoas, oficialmente, no Brasil. Propagandista da hidroxicloroquina, usa da própria doença para promover o medicamento sem eficácia comprovada para tratar a doença.
Também não faz valer o uso da máscara, nem o isolamento social, como recomenda a Organização Mundial da Saúde (OMS), ao dar esclarecimentos aos jornalistas sem respeitar distanciamento físico, e retirando a proteção ao final da conversa. E incorre em crime previsto no artigo 268 do Código Penal, que enquadra criminalmente aqueles que, sabendo que estão com um agente infeccioso, continuam se relacionando com outros e disseminando a doença
Para especialistas, a postura de Bolsonaro coloca a vida da população, já fragilizada pela pandemia, sob um risco ainda maior. Ao mostrar por vídeos que faz uso da cloroquina e afirmar que confia no medicamento no combate à covid-19, ele incita o uso do remédio pelas pessoas. É o que lastima Alessandro Silveira, pós-doutor em microbiologia clínica e graduado em Farmácia-Bioquímica pela Universidade Federal de Santa Maria.
“Não seria interessante externar esse tipo de postura para a população inteira. A partir do momento que se faz isso, ele está incitando o uso do remédio”, observa.
O ex-ministro da Saúde Luiz Henrique Mandetta alertou que Bolsonaro precisará ter cuidado com o próprio temperamento e ficar 14 dias em isolamento total, caso contrário vai transmitir o coronavírus. E salientou que passar doença adiante é crime previsto em lei. “É crime quando alguém tem consciência que está com doença infecciosa e contamina o outro intencionalmente”, afirmou.
O ex-ministro se referia ao artigo 268 do Código Penal, que diz: “Infringir determinação do poder público, destinada a impedir introdução ou propagação de doença contagiosa: Pena — detenção, de um mês a um ano, e multa”. Bolsonaro cancelou todos os compromissos externos, até dia 13, e que se reunirá apenas por videoconferência. Porém, não representa que ficará em quarentena, única forma de evitar a propagação do vírus.
O também ex-ministro da Saúde Nelson Teich rebateu Bolsonaro, que afirmou usar a hidroxicloroquina contra a covid-19. Em vídeo, desmistificou o uso da medicação, que tem sido apresentada pelo presidente como se fosse poção mágica. “A cloroquina e a hidroxicloroquina não mudaram a história natural da doença, não aumentaram o índice de cura e não reduziram a mortalidade”, explicou.
Alessandro Silveira concorda: “Não existem estudos que demonstram que a cloroquina é realmente eficaz. É consenso”, reforça. Em maio, a Sociedade Brasileira de Infectologia desaconselhou a prescrição da droga em pacientes leves de covid. O medicamento ainda pode agravar doenças cardíacas.
As máscaras, que são aconselhadas e têm eficácia preventiva, estão longe de serem incentivadas por Bolsonaro. “O pretenso ‘bom mocismo’ não o impediu de mutilar o projeto de uso de máscaras que o Legislativo propôs, com argumentos que satisfazem ao seu ego e suas convicções destrambelhadas”, atacou o médico e doutor em saúde pública Flávio Goulart.
Para o especialista em Gestão da Saúde da Fundação Getúlio Vargas Adriano Massuda, a postura de Bolsonaro denuncia o descaso com a saúde da população. “Que a experiência possa servir para que ele repense as atitudes, a atenção com a população do país, com sistema de saúde público, porque as medidas dele têm enfraquecido o sistema e dificultado o enfrentamento à pandemia”.