Russomanno divide direita na eleição em SP
Foto: Marcos Alves / Agência O Globo
Na reta final do período de convenções partidárias, a disputa pela prefeitura de São Paulo aguarda por uma definição que pode mudar o cenário eleitoral. Doze candidatos já foram oficializados, mas há incertezas sobre a candidatura de Celso Russomanno (Republicanos), bem colocado nas pesquisas e que tem articulado para ter apoio do presidente Jair Bolsonaro no pleito.
Se Russomanno for confirmado e tiver endosso presidencial, ele pode se tornar o fiel da balança e arrebatar votos do eleitorado órfão do Aliança pelo Brasil, partido que Bolsonaro tentou erguer ao se desfiliar do PSL.
O pré-candidato do Republicanos, cuja convenção ocorre na quarta-feira, último dia permitido, esteve três vezes com Bolsonaro neste mês. O partido é ligado à Igreja Universal e abriga dois dos filhos do presidente, Flávio e Carlos.
Ex-apresentador de TV e especializado em direito do consumidor, Celso Russomanno disputou a prefeitura outras duas vezes pelo mesmo partido, em 2012 e 2016. Em ambas as ocasiões ele largou em primeiro lugar nas pesquisas e desidratou ao longo das disputas, ficando de fora do segundo turno. Esse histórico pode pesar contra sua candidatura desta vez, e levar sua sigla a apoiar outro candidato.
Diversos postulantes da direita brigam pelo voto conservador, especialmente em razão do fato de Jair Bolsonaro ter deixado clara sua intenção de não apoiar ninguém nas eleições, pelo menos no primeiro turno.
Na lista de candidatos que tentam abocanhar esse eleitorado constam Levy Fidelix (PRTB), Filipe Sabará (Novo), Andrea Matarazzo (PSD), Joice Hasselmann (PSL) e Arthur do Val (Patriota). Até Márcio França (PSB), do campo da esquerda, aposta no voto bolsonarista ao se posicionar contra o governador João Doria (PSDB), rompido com o presidente.
Joice e Do Val, no entanto, enfrentam resistência dos apoiadores de Bolsonaro por terem feito críticas ao presidente no último ano. Os dois devem levantar a bandeira do “lavajatismo” para focar no voto dos “bolsonaristas arrependidos”.
Mais ao centro, o prefeito Bruno Covas (PSDB) montou uma aliança com dez partidos (PSDB, DEM, MDB, PP, PL, PSC, PROS, PV, Podemos e Cidadania). A coalizão pretende ser um teste de uma frente ampla que uniria as três maiores siglas (PSDB, DEM e MDB) para as eleições de 2022.
Por pouco Covas não teve o apoio da ex-prefeita Marta Suplicy. Ontem, seu partido, o Solidariedade (SD), decidiu apoiar Márcio França, contrariando o desejo de Marta por apoiar o PSDB. Ela se desligou do SD horas depois da convenção.
No campo da esquerda, a situação é inédita. Desde 1985 o PT não entra numa eleição paulistana tão fragilizado como agora. O maior receio levantado por petistas é ficar atrás de Guilherme Boulos (PSOL), o que significaria perda de hegemonia no campo da esquerda em São Paulo.
Além de ter se saído bem em pesquisas eleitorais recentes, Boulos tem recebido apoio de personalidades historicamente ligadas ao PT, como o religioso Frei Betto, o cientista político André Singer, ex-porta-voz da Presidência da República no governo Lula, e o ex-ministro Celso Amorim.
Sem o aliado histórico PCdoB, que lançou Orlando Silva, o PT ainda não definiu o vice de Jilmar Tatto. O PSB, por sua vez, enfrenta críticas internas e do aliado de chapa, o PDT, por causa dos constantes acenos de Márcio França a Jair Bolsonaro. Ambas as legendas são oposição do governo federal na Câmara.
Os partidos têm até quarta-feira para fazer suas convenções. Além do Republicanos, a Rede deve oficializar a candidatura da deputada estadual Marina Helou, enquanto o PCB deve lançar o nome de Antonio Carloz Mazzeo, e a UP, o de Vivian Mendes.