Gleisi explica tática das candidaturas próprias
Foto: Patricia Monteiro/Bloomberg
O PT fez gestos importantes a aliados nesta disputa municipal e não está isolado, rechaça a presidente nacional da legenda, deputada Gleisi Hoffmann. Segundo Gleisi, a decisão de lançar chapas em praticamente todas as capitais e cidades com mais de 200 mil habitantes é “tática”, não falta de opção diante de conflitos da centro-esquerda e críticas de antigos aliados ao PT. “Tiramos uma tática eleitoral de estimular candidaturas próprias no maior número de cidades possível. Estamos construindo isso desde fevereiro, principalmente nas capitais e cidades em que pode haver segundo turno, com transmissoras de rádio e televisão.” O partido, afirma a deputada, acha que o pleito municipal é um momento “de ocupar espaço e falar com o povo”. “Falar do nosso legado, nos defendermos dos ataques. Mostrar que a gente existe”, diz.
Ter candidatura própria, explica a presidente do PT, alavanca o número 13 e ajuda a atingir o objetivo de eleger bancadas significativas de vereadores. Em relação às críticas recebidas pelo partido, sobre dificuldades em ceder a cabeça de chapa em lugares estratégicos, Gleisi diz que a mesma estratégia foi utilizada “por quase todos os partidos”, sobretudo pelos que veem riscos de não atingir a cláusula de barreira em 2022. Isso, na visão da deputada, foi a causa central para o afastamento do PCdoB dos petistas em lugares estratégicos, como Belo Horizonte e São Paulo.
Na capital paulista, Gleisi admite que o partido cogitou apoiar a candidatura de Guilherme Boulos, mas o dirigente do Psol oficializou seu nome quando o PT já havia iniciado um processo interno de prévias, o que dificultou muito a aliança.
O PT, enfatiza ela, fez muitas alianças – “no Rio, Aracaju, Belém, São Luís, Natal, Salvador, Teresina”. “Não estamos isolados, não estamos saindo sozinhos”, diz. Sobre a dobradinha estratégica do PSB e PDT, com olhar em 2022, a petista provoca dizendo que os dois partidos talvez estejam mais bem posicionados no Sudeste, “onde são ligados a polos mais conservadores na política”. “Nunca foram do nosso campo tradicional e histórico de alianças”, rebate.
A rixa com o PSB, argumenta Gleisi, é movida sobretudo pelo quadro no Recife, onde PT optou por lançar Marília Arraes e não fazer aliança com o filho de Eduardo Campos, o deputado João Campos (PSB). O candidato do PSB, diz Gleisi, é jovem e o PT já havia retirado a candidatura de Marília Arraes no pleito passado. A deputada é um investimento do PT em novas lideranças, justifica Gleisi. “Isso não nos impede de continuarmos aliança com o PSB no Estado. Os partidos têm que ter oportunidades”, justifica.
Ela pontua, ainda, que o PT fez um gesto ao PSB, apoiando Ricardo Coutinho em João pessoa. “Retiramos a candidatura lá, numa decisão nacional, e vamos apoiar o Ricardo Coutinho. Ficou tumultuado, não conseguimos convencer o PT local e foi muito em cima da hora. Mas achamos que não poderíamos deixar o Ricardo Coutinho sozinho.” [Leia mais em PT disputará com chapa pura em 14 capitais]
A situação do Rio, confessa Gleisi, surpreendeu o PT, que desde o início trabalhava com a perspectiva de frente com o Psol e o PCdoB. “Desde o início demos apoio ao Freixo e queríamos puxar o PCdoB. PDT e PSB se desgarraram, não quiseram nem conversar. Nós achávamos que Freixo era a alternativa, e ficamos muito surpresos [com a desistência]. Ele alegou falta de unidade da esquerda e problemas internos Psol. Mas a Benedita está sendo uma boa surpresa pra nós.”
Secretária nacional de formação política do PT, a deputada federal Maria do Rosário (RS) admite que tinha a expectativa de um aprofundamento nacional da aliança com o PCdoB após o gesto do partido de apoiar Manuela D’Ávila em Porto Alegre. “Em Porto Alegre, em 40 anos, será a primeira vez em que o PT não terá candidatura própria. O PT aqui foi bastante generoso reconhecendo em Manuela uma candidatura para vencer. Para mim pessoalmente foi frustrante ver que o PCdoB não veio em outras cidades, mas vale a pena, por Porto Alegre, estarmos juntos”. Rosário diz que prefere entender o rompimento temporário com o aliado histórico como uma questão momentânea, “por causa da cláusula de barreira, e não por afastamento político e programático”.