Bolsonaro põe advogada a serviço de governadora de SC
Foto: Maurício Vieira/Secom
Após se livrar do processo de impeachment e assumir, na terça-feira, 27, o governo de Santa Catarina, a advogada e produtora rural Daniela Reinehr (sem partido), de 43 anos, fez questão de mostrar que o presidente Jair Bolsonaro reconquistou um espaço político que havia perdido desde que deixou o PSL para tentar criar o Aliança pelo Brasil, no ano passado. “Sou 100% Bolsonaro. Sou cria dele”, disse Daniela ao Estadão.
Quando o presidente da República deixou o PSL, em novembro, o governador catarinense, Carlos Moisés, optou por ficar no partido e rompeu com o Planalto. Já Daniela permaneceu fiel a Bolsonaro e abraçou o movimento de criação da nova sigla, que ainda não saiu do papel. A defesa dela no processo de impeachment, inclusive, foi liderada por Karina Kufa, advogada do presidente e uma das coordenadoras do Aliança. Daniela está, agora, articulando uma agenda pública com o presidente para semana que vem.
Assim como Moisés, Daniela foi acusada pela Assembleia Legislativa de Santa Catarina (Alesc) de crime de responsabilidade em aumento salarial dado a procuradores do Estado em 2019. O Tribunal Especial de julgamento, formado por cinco desembargadores e cinco deputados estaduais decidiu, na madrugada do sábado passado, afastar Moisés, por 6 votos a 4, e manter Daniela no cargo – a votação ficou em 5 a 5 e foi desempatada pelo presidente do Tribunal de Justiça (TJ), desembargador Ricardo José Roesler.
Eleito em 2018 com 75% dos votos em Santa Catarina no segundo turno, Bolsonaro acompanhou de perto o processo e conversou diversas vezes com Daniela por telefone, segundo interlocutores. Karina trabalhou j com a advogada Ana Cristina Blasi, ex-desembargadora do Tribunal Regional Eleitoral de Santa Catarina (TRE-SC), e Salomão Antonio Ribas Júnior, que já foi deputado estadual e tem bom trânsito na Alesc, e presidiu do Tribunal de Contas do Estado (TCE-SC).
A primeira medida foi separar a defesa da vice da de Moisés. Karina classificou a posse de Daniela como uma vitória política de Bolsonaro. “Sem dúvida é importante ter vários Estados alinhados com o governo federal. Daniela sempre foi apoiadora do presidente e vai fazer um governo conservador e de direita”, afirmou.
Na coletiva de imprensa que deu após assumir, a governadora interina foi questionada pelo fato de seu pai, o historiador Altair Reinehr, ter escrito textos relativizando o nazismo durante a Segunda Guerra Mundial. Na quarta-feira, 28, a Confederação Israelita do Brasil (Conib) e a Associação Israelita Catarinense (AIC) divulgaram nota afirmando que a governadora “deve, de forma veemente, manifestar sua repulsa ao negacionismo da tragédia que foi o Holocausto”.
Ao Estadão, Daniela afirmou que não pode responder pelas ideias do pai. “Não vou admitir que me julguem por pensamentos com os quais eu não coaduno. Não posso responder pelo pensamento de outras pessoas, ainda que seja meu pai. Ele vai responder pelo que pensa e eu, pelo que penso. Tenho muitos amigos judeus e fui a Israel”, disse.
Natural de Maravilha, no oeste do Estado, Daniela entrou na política em 2018 quando filiou-se ao PSL, seu primeiro e único partido. Ela chamou atenção devido à militância no movimento em defesa das pessoas com deficiência. “Tenho um filho com deficiência e isso me levou ao ativismo. Não me imaginava em um cargo eletivo, mas essa onda Bolsonaro trouxe muita gente para a política”, afirmou.
A governadora interina disse, ainda, que o projeto de criação do Aliança pelo Brasil “é um sonho que prossegue”. Sobre a denúncia de aumento de salário aos procuradores, Daniela disse que não vai emitir “nenhuma opinião” e “aguarda as decisões”.