Biden prepara várias mudanças no trato da pandemia
Foto: JIM WATSON / AFP
Um dia após tomar posse, o presidente Joe Biden assinará 10 decretos executivos para conter a pandemia de Covid-19, revertendo a criticada conduta de seu sucessor. A estratégia coincide com um marco que demonstra a extensão da doença no país: na quarta-feira, as mortes causadas pelo novo coronavírus nos Estados Unidos ultrapassaram o número de americanos mortos na Segunda Guerra Mundial.
Segundo a Universidade Johns Hopkins, até a noite de quarta, os EUA contabilizavam 405.400 mortes pela doença, mais que qualquer outro país do planeta. Na manhã desta quarta, os mortos já eram mais de 406 mil. De acordo com o Departamento de Assuntos dos Veteranos, 405.399 americanos perderam a vida no conflito mais letal do século passado.
O governo recém-empossado anunciou que lançará, nesta quinta, uma estratégia nacional de 21 páginas que prevê a centralização da resposta nacional à crise e a obrigatoriedade do uso de máscaras em aeroportos e vários meios de transporte. O novo presidente promete estabilizar a cadeia de produção para insumos médicos críticos e implementar uma campanha de vacinação rápida e igualitária, disse sua equipe em uma entrevista para a imprensa.
A nova estratégia vai na contramão da abordagem do ex-presidente Donald Trump, que optou por uma resposta descentralizada e não raramente anticiência, deixando assuntos relacionados a restrições, vacinas e testagem à mercê dos estados. À CNN, fontes do novo governo disseram que herdaram um plano nacional de vacinação “inexistente”. Biden, por sua vez, classificou a política de imunização do republicano como um “fracasso sombrio”.
— Nós herdamos um cenário muito pior do que imaginávamos — disse Jeff Zients, coordenador da força-tarefa do novo governo para conter a pandemia, na quarta-feira. — Nosso plano é guiado pela ciência, pela informação e pela saúde pública. Não é guiado pela política.
A estratégia apresentada na quarta, disseram os democratas, tem por fim uma resposta federal mais coesa e transparente, buscando garantir que as populações mais afetadas tenham acesso à testagem, tratamento e vacinação. O objetivo é ampliar a produção de insumos e centros de imunização, mas Zients se recusou a dizer quando a vacina estará disponível para a maioria da população.
Até o momento, mais de 16 milhões de americanos já foram vacinados, o que significa que 52% das doses distribuídas para os estados já foram aplicadas. A promessa de Biden é imunizar 100 milhões de pessoas em 100 dias, algo que seu governo crê ser viável.
Parte do financiamento virá da Agência para a Coordenação de Emergências Federais (Fema), que foi ordenada a iniciar a implementação de centros comunitários de vacinação que terão o apoio do governo, mas recursos adicionais são necessários. A nova porta-voz da Casa Branca, Jen Psaki, disse na quarta que o presidente “continua comprometido” invocar a Lei de Produção de Defesa para acelerar a resposta e suprir deficiências.
Herança da Guerra da Coreia e raramente usada na área da saúde, a medida permite que o governo inste companhias privadas a priorizar suas ordens para garantir que não falte produtos essenciais. Em 2020, Trump ameaçava com frequência usar a legislação para pressionar empresas, mas raramente o fez.
Conselheiros da nova gestão se recusaram a detalhar quando ou como a lei será usada. Elas afirmaram, no entanto, terem identificado a escassez de 12 tipos de materiais essenciais para o combate à crise, entre eles máscaras N95, reagentes, seringas e swabs usados para os exames que detectam a doença.
— Onde for possível produzir mais, nós o faremos, e se precisarmos usar a Lei de Produção de Defesa para ajudar, nós o faremos também — disse Tim Manning, chefe do braço da força-tarefa que coordena a cadeia de produção.
Boa parte dos planos de Biden, como a ampliação da testagem para que as escolas possam ser reabertas, demandam verbas que dependem da aprovação do Congresso, de maioria democrata. O novo presidente propôs um pacote de estímulo de US$ 1,9 trilhão, mas ainda não há data definida para sua votação.
Um dia após tornar o uso de máscara obrigatório em propriedades federais, Biden irá torná-las obrigatórias também em aviões, trens e outros modais. Como já ocorre, viajantes internacionais precisarão ter exames negativos para a Covid-19 antes de embarcar. Agora, contudo, precisarão respeitar uma quarentena quando chegarem aos Estados Unidos.
Outro decreto desta quinta criará um Conselho Nacional de Testagem, medida que busca fomentar a aplicação de exames, pesquisas e a busca por tratamentos. Também será implementada uma segunda força-tarefa para “responder ao impacto desproporcional e severo da Covid-19 em minorias étnicas e outras populações desamparadas”.
A testagem nos EUA aumentou significativamente nos EUA ao longo de 2020 — na última semana, cerca de 2 milhões de exames foram realizados por dia. O acesso, no entanto, ainda é difícil e desigual entre as regiões do país. As autoridades também afirmaram que irão apresentar novas diretrizes para a reabertura segura das escolas, ponto de tensão durante o governo que deixou a Casa Branca na quarta.
Biden também assinará um decreto para acelerar o reembolso a estados que enviaram suas Guardas Nacionais para responder à pandemia. Até 14 de janeiro, 16 unidades da federação puseram os militares da reserva para auxiliar em centros de testagem, hospitais, prisões e nas campanhas de vacinação.
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