As dificuldades da supervacina da Pfizer
Foto: Lucy Nicholson/Reuters
A farmacêutica norte-americana Pfizer pediu à Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária) o registro definitivo da vacina contra Covid-19, o que permitiria a venda, distribuição e uso do imunizante no país.
O órgão tem 60 dias contados da data de entrega do pedido, no último sábado (6), para concluir a análise.
A solicitação é diferente da autorização emergencial, como a obtida pelo Instituto Butantan para a Coronavac, por exemplo. Com a aprovação do registro definitivo, a vacina da Pfizer poderia ser usada para imunização do público-geral e distribuída na rede pública e privada.
No entanto, o uso do imunizante no Brasil enfrenta outros desafios além do crivo da agência: a distribuição e o preço das doses.
A vacina da Pfizer tem uma peculiaridade: ela deve ser transportada a -70ºC, temperatura que só é alcançada por ultracongeladores.
Após aberta, deve ser mantida em temperaturas mais amenas, de 2 a 8ºC, por até cinco dias.
Para Carla Domingues, epidemiologista e ex-coordenadora do Programa Nacional de Imunização, essa exigência restringe a ampla aplicação da vacina.
“Uma vez que nós temos outras vacinas, o ideal é que esta se concentre em grandes centros, onde há essa possibilidade de ter estes super freezers – seja porque eles já foram adquiridos pelos estados ou porque nós temos laboratórios de pesquisas, em universidades, que podem fazer um acordo com os locais, nas capitais, por exemplo, e emprestar esses super freezers”, disse ela em entrevista à CNN.
“Precisamos mapear as localidades que têm este super freezers para que possamos trabalhar em parceria em complementação a rede de freezer do Ministério da Saúde. Não acredito que haja uma possibilidade de utilização desta vacina em todos os municípios brasileiros”, declarou.
No acordo inicial com o governo dos Estados Unidos, a Pfizer vendeu 100 milhões de doses a US$ 19,50 (R$ 103,90) cada.
Esse valor é bem mais alto que os estimados para as vacinas da AstraZeneca/Oxford, de US$ 3,16 (R$ 16,80), e da Coronavac, de US$ 10,30 (R$ 54,90).
A Pfizer anunciou no fim de 2020 que planejava três preços diferentes para a vacina, um mais alto para países desenvolvidos, um intermediário para países em desenvolvimento e outro mais baixo para os mais pobres.
Ainda não há preço fixado para o Brasil, que se encaixaria na segunda faixa.
A vacina da Pfizer também tem um intervalo entre a primeira e a segunda doses, menor do que os outros imunizantes usados no Brasil.
A dose de reforço deve ocorrer 21 dias após a primeira aplicação. Para a Coronavac, essa lacuna é de até 28 dias e, para a de Oxford/AstraZeneca, pode chegar a três meses.
Em resposta a uma decisão do Reino Unido de adiar a segunda dose para quatro a 12 semanas depois da primeira, a Pfizer e a BioNTech disseram em nota que não há evidência de que a vacina continuará a proteger a pessoa vacinada caso o intervalo previsto seja extrapolado.
“A fase 3 do estudo para a vacina contra Covid-19 da Pfizer e BioNTech foi desenhada para avaliar a segurança e eficácia da vacina seguindo um regime de duas doses, separados por 21 dias. A segurança e a eficácia da vacina não foram avaliadas em outros regimes de dosagem, uma vez que a maioria dos voluntários do teste receberam a segunda dose na janela especificada no desenho do estudo”, disseram.
Apesar das dificuldades, a aprovação de outro imunizante é mais um caminho para ampliar o número de doses da vacina contra Covid-19 disponíveis no país.
Em entrevista à CNN, o microbiologista da Universidade de São Paulo (USP) Luiz Gustavo de Almeida avaliou que, no ritmo atual, a imunização de 162 milhões de brasileiros, número necessário para frear a pandemia, pode levar ao menos quatro anos e meio.
Além disso, a vacina da Pfizer é a que obteve a maior taxa de eficácia nos testes clínicos dentre todas as que estão em uso no mundo: 95%.
O número é semelhante aos 94% obtidos pela Moderna e os 91% da Sputnik V. A vacina de Oxford/Astrazeneca teve 70% e a Coronavac, 50,4%.
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