Empresas privadas vão tentar comprar vacina de novo
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Após a tentativa frustrada da compra de um lote de 33 milhões de vacinas contra covid-19 em janeiro, algumas empresas de expressão nacional estão se preparando para uma nova investida, assim que os laboratórios abrirem as vendas para o setor privado.
As negociações não avançaram no começo do ano porque os conglomerados farmacêuticos ainda não têm produção capaz de atender à demanda global. A prioridade tem sido a venda dos imunizantes para os governos. Assim, cada país pode atender os grupos que considerar essenciais, como idosos, indígenas e profissionais da saúde, entre outros.
A Multiplan, rede de 19 shoppings, como o Morumbi (São Paulo) e Barra (Rio), é uma das empresas que pretendem retomar a iniciativa, assim que o setor privado receber o sinal verde. O plano é adquirir um lote de 300 mil doses, das quais 200 mil serão doadas para a rede pública e 100 mil serão usadas na imunização de funcionários da empresa, dos lojistas e das equipes de apoio, como limpeza e segurança.
“Não queremos furar fila. É importante destacar que isso só será possível quando a venda estiver disponível para a iniciativa privada. Hoje não está disponível, não tem vacina no mercado”, disse o vice-presidente de Compliance e Institucional da Multiplan, Vander Aloisio Giordano, em entrevista ao Broadcast.
A iniciativa da Multiplan faz parte de uma articulação de empresas que pretendem adquirir os imunizantes conjuntamente, destinando uma parte para o Sistema Único de Saúde (SUS) e outra parte para seus funcionários.
Giordano afirmou que não poderia falar em nome das outras empresas nem citar seus nomes. Mas o Broadcast apurou que o grupo envolve principalmente conglomerados de setores intensivos em mão de obra e/ou trabalhadores em contato com o público, como indústrias e varejistas.
Por ora, não há previsão de quando os imunizantes poderão ser adquiridos, mas a expectativa é que por volta de abril seja aberta alguma janela de oportunidade lá fora, segundo Giordano. Também não há previsão de custo das vacinas, nem quais serão os fornecedores.
“Só vamos comprar se for uma vacina aprovada pela Anvisa”, disse. Hoje, apenas Coronavac e Oxford/Astrazeneca estão liberadas no Brasil. “Se, futuramente, a Anvisa liberar Pfizer, Sputnik, Moderna, etc, e elas estiverem disponíveis para venda, teremos interesse”, afirmou.
No mês passado, a iniciativa dividiu opiniões do empresariado e da sociedade de modo geral. Alguns creem que a compra de vacinas pelo setor privado, seguida de doação de um parte ao governo, ajudaria a reforçar o estoque do SUS.
Outros criticaram a medida porque viram a possibilidade de a venda ao setor privado deixar para trás outros países, já que não há vacinas para todos neste momento. Mesmo no Brasil a imunização dos funcionários de empresas ficaria à frente de grupos apontados como prioritários pelo Ministério da Saúde.
“Imagine se o grupo de empresas tivesse comprado as 33 milhões de vacinas planejadas. Isso teria ajudado o sistema público no Brasil, e talvez tivéssemos sido mais rápidos na vacinação. Fica a reflexão”, afirmou Giordano. “Não é verdade falar que a vacina comprada pelas empresas é coisa para rico. Ela vai incluir as pessoas mais humildes, que usam transporte público diariamente e trabalham no ‘chão da fábrica’.”
O Brasil tem 4,5 milhões de pessoas que já receberam a primeira dose da vacina, de acordo com levantamento feito pela imprensa a partir dos dados das secretarias estaduais de saúde. O País registrou 1.452 mortes em decorrência da covid-19 na quinta-feira, 12, a maior taxa diária desde 29 de julho do ano passado, devido à nova onda de contaminações.
O fundador e presidente da Multiplan, José Isaac Peres, liderou na manhã desta quinta uma reunião com investidores e analistas, na qual teceu críticas às autoridades que determinaram o fechamento do comércio. Fez também um apelo para que a sociedade veja a pandemia como algo que está sendo superado.
“Precisamos olhar para frente, ver que a pandemia está passando e que a vacinação começou a ser feita”, disse Peres. Sem citar nomes de prefeitos ou governadores, ele disse ainda que “fica bonito (para as autoridades) fechar os shoppings”, pois isso dá visibilidade e a falsa sensação de que estão salvando vidas.
No entanto, classificou a decisão de fechar o comércio como “arbitrária” e argumentou que os centros de compra são locais seguros, que seguem protocolos de higiene e distanciamento social.
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