Presidente da CPI surpreende e chama Bolsonaro de “negacionista”
Foto: Edilson Rodrigues/Agência Senado
O senador Omar Aziz (PSD-AM), presidente da Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) da covid-19, classificou que o presidente Jair Bolsonaro foi negacionista “desde o primeiro momento” na condução da crise sanitária no país.
Em entrevista ao programa Roda Viva, da TV Cultura, nesta segunda-feira (3/5), o parlamentar ponderou que o chefe do Executivo federal adotou estratégias erradas para enfrentar a doença, como não respeitar o isolamento social e defender o tratamento com remédios que não são comprovados pela ciência como eficazes contra o novo coronavírus.
“O presidente Jair Bolsonaro, desde o primeiro momento, foi negacionista. Ele estimulou aglomerações e achava que nós poderíamos sair dessa pandemia com imunização de rebanho. Além do mais, sobre essa questão da cloroquina de outros remédios, eu não discuto. Vou pela ciência. Acho que os equívocos cometidos têm que ser avaliados e têm que ser feitas autocríticas. Esses equívocos custaram ao Brasil muitas vidas”, analisou o senador.
Aziz, contudo, evitou falar se Bolsonaro deve ser considerado culpado pelo descontrole da pandemia no Brasil e também preferiu não antecipar se, ao fim das investigações, o mandatário responderá a um processo de impeachment.
“Em relação a conclusões, é muito precipitada uma investigação que nem começou ainda a gente falar em punições, muito menos falar em impeachment. Isso seria uma irresponsabilidade política, social com o Brasil”, ponderou Aziz.
Entretanto, o presidente da CPI garantiu que todos os fatos serão devidamente apurados e que o trabalho da comissão “não vai dar em pizza”. “Com certeza, nós vamos concluir, vamos inquirir, encaminhar aos órgãos competentes para tomar providências”, afirmou.
O presidente do colegiado observou uma mudança de comportamento por parte do Ministério da Saúde com a instalação da CPI. Ele lembrou o episódio da última semana em que o ministro Marcelo Queiroga fez um apelo à Organização Mundial da Saúde (OMS) para que a entidade auxiliasse o Brasil na aquisição de mais vacinas contra a covid-19.
“Até os comportamentos foram mudados depois que a CPI foi instalada. Se você perceber, tiver uma boa lembrança do governo em relação à vacina há um ano, dizendo que quem tinha que impor condições para trazer vacina era o Brasil, que o Brasil tinha um poder econômico, um grande número de pessoas para consumir. Não aceitava imposições para trazer uma vacina que salva vidas. Sexta-feira o ministro Queiroga fez um apelo. Ou seja, você sai da soberba depois da CPI para a humildade”, disse Aziz.
O senador opinou que será importante ouvir ex-integrantes do governo que deixaram os cargos na administração federal tecendo críticas a ex-colegas. Na avaliação de Aziz, se necessário, a CPI poderá fazer acareações.
“Até porque não é porque é depoimento de um ex-ministro que tudo que ele falar é verdade. As contradições existirão. Qualquer coisa que esteja relacionada a gestão, comportamento, obediência cega sem comprovação científica, nós iremos investigar. Vocês vão notar um comportamento de investigação muito ágil”, destacou.
De acordo com o parlamentar, a acareação pode ser aplicada para que fique claro as recentes declarações de Fábio Wajngarten, ex-secretário de Comunicação Social do governo, que afirmou ter intermediado com a Pfizer a compra de doses de vacinas e que o ex-ministro Eduardo Pazuello dificultou o acordo.
Para o presidente da CPI, soa muito estranho que pessoas que fizeram parte do governo façam reclamações entre si. “O Fábio Wajngarten quando saiu, saiu falando mal do ministro (Pazuello). O ministro das Relações Exteriores, Ernesto Araújo, também está falando mal do governo. Parece que o governo só presta quando estão no cargo, depois começam a ver defeito”, observou.
“Ou o cara fica enfeitiçado quando entra no governo, pelo cargo que está exercendo, que é muito perigoso para o Brasil, ou realmente tem muita coisa errada, porque nunca vi tanto ex-ministro sair de um governo para falar mal depois que sai”, acrescentou o senador.
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