Renan ataca interferência de assessor e filho de Bolsonaro na Saúde
Foto: Jefferson Rudy/Agência Senado
O vereador Carlos Bolsonaro (Republicanos-RJ) e o assessor especial para assuntos internacionais da Presidência, Filipe Martins, participaram das negociações feitas entre a Pfizer e o governo federal para aquisição de vacinas contra covid.
O presidente da Pfizer da América Latina e ex-presidente da farmacêutica no Brasil, Carlos Murillo, confirmou nesta quinta-feira, 13, em depoimento na CPI da Covid, que o filho ’02’ do presidente Jair Bolsonaro e Martins acompanharam parte de uma reunião em setembro com representantes da farmacêutica.
“Vários depoentes atestaram a essa Comissão Parlamentar de Inquérito a existência de um aconselhamento paralelo do presidente da República em questões relacionadas à pandemia. Concretamente, Vossa Senhoria tratou da aquisição de vacinas da Pfizer com alguém que não ocupava cargo público, função pública no Ministério da Saúde?”, questionou Renan Calheiros.
“Representantes da Pfizer foram recebidos pelo senhor Fabio Wajngarten (ex-secretário de Comunicação da Presidência), nessa oportunidade havia-se tentado contato com o então secretário-executivo do Ministério da Saúde, Elcio Franco, como já visto aqui, sem sucesso, sem resposta. Diante da falta de resposta, o senhor Wajngarten contactou o senhor Filipe Martins, que chamou para o local da reunião o filho do presidente da República, o senhor Carlos Bolsonaro, que estava presente no Palácio do Planalto”, continuou o relator ao pedir a confirmação das informações.
Carlos Murillo confirmou o que foi dito por Renan. “Após aproximadamente uma hora de reunião, Fabio recebe uma ligação, sai da sala e retorna para reunião. Minutos depois entra na sala da reunião Filipe Garcia Martins, assessor de assuntos internacionais da Presidência da República, e Carlos Bolsonaro. Fabio explicou para Filipe Garcia Martins e Carlos Bolsonaro os esclarecimentos prestados pela Pfizer”, relatou o representante da Pfizer.
Murillo não estava presente no encontro, mas confirmou a existência e os participantes com a empresa. A conversa aconteceu no quarto andar do Palácio do Planalto, onde funciona a sala da Secretaria de Comunicação (Secom).
Na semana passada, durante os depoimentos dos ex-ministros da Saúde Nelson Teich e Luiz Henrique Mandetta, ambos reafirmaram a existência de um “aconselhamento paralelo”, contrário às orientações do Ministério da Saúde, que era seguido pelo presidente Jair Bolsonaro para tomar decisões relativas à pandemia.
“O ex-secretário pediu reunião com representantes da Pfizer para esclarecimentos sobre os entraves”, afirmou o dirigente da farmacêutica sobre a negociação por vacinas contra covid.
Murillo também disse que a negociação da empresa foi ignorada por três meses pelo governo de Bolsonaro. As negociações com o governo federal para aquisição de vacinas começaram no final de agosto do ano passado. “Nossa oferta de 26 de agosto tinha uma validade de 15 dias. Passado os 15 dias, o governo brasileiro não rejeitou, mas tampouco aceitou a oferta”, disse o dirigente da Pfizer. A primeira proposta, no entanto, foi apresentada antes – em 14 de agosto.
De acordo com Murillo, o diálogo entre a Pfizer e o governo federal por vacinas começou em maio de 2020 e, em agosto foram feitas duas ofertas, uma de 30 milhões de doses e outra de 70 milhões de doses a serem entregues em 2020 e 2021. O preço oferecido pela empresa era de US$10 (cerca de R$ 53, na atual taxa de câmbio) por dose de vacina.