Cepa indiana pode fazer 3a onda ser a pior no Brasil

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Foto: Reprodução

O governo federal está diante de três grandes preocupações: a possibilidade de uma terceira onda da pandemia do novo coronavírus, como admitiu, ontem, o ministro da Saúde, Marcelo Queiroga, o que levaria à necessidade de ação de restrições por parte dos municípios para conter o avanço da doença; o avanço da cepa indiana, que depois do Maranhão e do Ceará, transitou por São Paulo e pelo Rio de Janeiro; e a hipótese de essa nova mutação do vírus piorar a terceira onda, seja pela velocidade de infecção ou por tornar o agente infeccioso ainda mais agressivo e letal.

Ao todo, são sete os registros da nova variante no Brasil: seis de um navio chinês que está fundeado na Baia de São Marcos, no Maranhão, e o passageiro vindo da Índia que entrou no país pelo aeroporto de Guarulhos e está isolado em Campos dos Goytacazes, no norte fluminense. “A terceira onda é uma preocupação. Assistimos, agora, a uma redução da tendência de queda de óbitos. Isso pode ser resultado da flexibilização das medidas de bloqueio. Quando se abre, naturalmente surgem novos casos. Se essa tendência é desmesurada, vai ter uma nova pressão ao sistema de saúde, que posteriormente se reflete em óbitos. Mas também pode ser fruto de uma variante e ainda não temos essa resposta”, explicou Queiroga, em audiência pública na Câmara dos Deputados.

De acordo com Julio Croda, médico infectologista e pesquisador da Fiocruz, a tendência de uma terceira onda se deve, em grande parte, à flexibilização das medidas restritivas mesmo com taxas de ocupações hospitalares altas: “A flexibilização não veio em um momento oportuno, já que a maioria dos estados apresentava a taxa de ocupação acima de 80%”, observou. Para Croda, a cepa indiana também pode ser um agravante “É mais transmissível e apresenta uma resposta autoimune maior. Por isso, pode rapidamente se tornar predominante no Brasil”, previu.

Alexandre Naime Barbosa, chefe do Departamento de Infectologia da Universidade Estadual Paulista (Unesp), compartilha da preocupação em relação à variante indiana. “Uma pessoa que pega essa variante tem mais chances de transmitir a doença do que uma que pegou o vírus original. Estamos estudando se essa variante pode levar a casos mais graves se comparada com o vírus original”, afirmou.

O novo Boletim do Observatório Covid-19, elaborado pela Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) e divulgado ontem, alerta para o recrudescimento da pandemia nas próximas semanas. Mostra que houve um aumento das taxas de incidência de casos novos da covid-19 entre 16 e 22 de maio. “O aumento no número de internações, demonstrado pelo novo aumento das taxas de ocupação dos leitos de UTI é resultado desse novo quadro da pandemia no Brasil”, ressalta o boletim.

O boletim da Fiocruz mostra, também, que, entre os dias 17 e 24 de maio de 2021, as taxas de ocupação de leitos de unidade de terapia intensiva (UTI) de covid-19 para adultos no Sistema Único de Saúde (SUS) aumentaram ou se mantiveram estáveis, em níveis elevados, em praticamente todo o Brasil. Isso reforçaria a avaliação de que a tendência de queda, que vinha sendo observada até por volta do dia 10 deste mês, se interrompeu.

O Brasil registrou, ontem, 2.398 mortes causados pela covid-19, de acordo com os dados do Conselho Nacional de Secretários de Saúde (Conass) — totalizando 454.429 óbitos. O levantamento, que compila dados de secretarias de Saúde dos 26 estados e do Distrito Federal, apontou ainda 80.486 novos casos de covid-19 nas últimas 24 horas, com um total de 16.274.695 registros desde o início da pandemia.

O governo federal exonerou, ontem, George da Silva Divério do cargo de Superintendente Estadual do Ministério da Saúde no Rio de Janeiro. Coronel do Exército, em novembro do ano passado ele assinou contratos de R$ 29 milhões com duas empresas, sem licitação, para fazer reformas em prédios da pasta no estado, em plena pandemia. As obras foram consideradas urgentes, por isso a licitação foi dispensada. Depois de assinados, os contratos foram anulados pela Advocacia-Geral da União (AGU), que não constatou razão para a dispensa de licitação.

Divério foi nomeado em junho de 2020 pelo então ministro da Saúde, general Eduardo Pazuello. Por se tratar de cargo DAS 5, a exoneração do coronel foi assinada pela Casa Civil da Presidência e está publicada no Diário Oficial da União (DOU).

Recentemente, o vice-presidente da CPI da Covid do Senado, Randolfe Rodrigues (Rede-AP), afirmou que existe a possibilidade de a comissão pedir a quebra de sigilo bancário de empresas e citou como exemplo o caso das companhias que reformariam imóveis do Ministério da Saúde no Rio, sob orientação de Divério.

De acordo com Randolfe, esses fatos “não esclarecidos” precisarão ser abordados pelo colegiado. O senador também criticou o valor dos contratos. Segundo ele, o valor representaria 750 mil doses de vacina contra covid-19.

Correio Braziliense