
Outro ministro da Saúde não está aguentando Bolsonaro
Foto: Reprodução
Marcelo Queiroga, médico cardiologista, o quarto ministro da Saúde do governo Jair Bolsonaro, tem um problema. Melhor, tem mais de um – o que significa que o país também os tem.
O problema que mais o aflige: falta vacina para quem precisa dela, quase todo mundo. Problema seguinte: Bolsonaro continua sabotando o seu trabalho. E outro: não manda no seus domínios.
Antes dele, dois outros ministros da Saúde, de tanto serem sabotados pelo presidente da República, e por discordarem do uso da cloroquina contra a Covid-19, largaram o emprego.
Mandetta não largou, foi demitido. Nelson Teich largou com menos de um mês no cargo. Não é moleza, não. Como servir a um presidente que não quer conselhos, mas obediência irrestrita?
Em uma audiência pública na Comissão de Fiscalização e Controle da Câmara, Queiroga atribuiu culpa ao Sistema Único de Saúde pelo descontrole da crise sanitária causada pelo vírus:
“O nosso sistema de saúde padecia de vicissitudes. Unidades hospitalares sucateadas, urgências lotadas, UTIs lotadas e filas de cirurgias para serem realizadas.”
Esqueceu-se de dizer, porém, que, em março deste ano, o governo federal cortou em 72% a verba destinada à manutenção de leitos de UTI. A desdita de Queiroga alimenta-se também de outros fatos.
A previsão de doses de vacinas contra Covid-19, a serem distribuídas aos estados pelo Ministério da Saúde a partir de junho, foi reduzida em 10,3 milhões, e logo agora.
Logo quando estão dadas as condições para que a terceira onda da doença se abata sobre o país. É o que preveem autoridades médicas e cientistas, e apontam os indicadores.
E as doses que os Estados Unidos iriam doar ao Brasil? Queiroga pareceu sincero ao admitir:
“Sendo pragmático, os Estados Unidos não vão doar doses de vacina para o Brasil. Até porque o Brasil comprou essas doses das indústrias americanas.”
Pobre Queiroga, vendedor de pastel de vento. Como acertar se ele defende máscara, álcool em gel e medidas de isolamento, e Bolsonaro aparece diariamente sem máscara, a promover aglomerações?
Como acertar se uma expressiva fatia dos brasileiros não lhe dá ouvidos, mas ao seu patrão que o desautoriza? Sem falar dos funcionários do Ministério da Saúde que ele não pode trocar.
A secretária de Gestão do Trabalho, Mayra Pinheiro, demonstrou como o poder de decisão permanece fracionado no ministério. Ela é partidária da cloroquina, Queiroga não é.
Mayra depôs na CPI da Covid e divergiu de Queiroga em vários aspectos, um deles o uso de drogas ineficazes contra a doença, e foi agraciada com flores enviadas por auxiliares de Bolsonaro.
O “pelotão cloroquina”, cuja estrela é Mayra, não esmorece. Queiroga dá sinais de que sim:
“Eu sou médico, eu estou aqui para tentar ajudar o povo do Brasil nessa situação, eu não tenho condições de fazer isso sozinho.“